tag:blogger.com,1999:blog-84291574555765092882024-03-05T20:12:58.759-08:00Desabafos de uma Mãe VeganaEste blog é uma partilha de experiências e de reflexões sobre tudo o que envolve ser uma família vegana e criar filhos veganos num mundo que nem sempre facilita essa tarefa. Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.comBlogger14125tag:blogger.com,1999:blog-8429157455576509288.post-75753668865082083012017-12-04T07:19:00.001-08:002018-04-29T09:37:23.996-07:00Crescer com saúde e consciência <div style="text-align: justify;">
Há quase dois anos que não escrevia aqui. E nestes dois anos senti que o mundo foi mudando um pouco. O meu mundo mudou - com a chegada de mais um filho, há mais de um ano - mas o resto do mundo também me foi começando a parecer um pouco diferente. Nesta segunda gravidez, senti que manter uma dieta vegetariana foi tudo bem mais pacífico que na primeira, já não houve ninguém a questionar-nos se iríamos "impor" as nossas escolhas ao nosso filho (como se não fizessem todos os pais o mesmo), não houve também nenhuma desconfiança por parte dos profissionais de saúde (as análises estiveram sempre óptimas, melhores até que na primeira em que era ovo-lacto-vegetariana) e até na maternidade tiveram imenso cuidado em arranjar-me comida adequada, chegando mesmo a nutricionista a ir comprar-me propositadamente um pacote de leite de arroz (apenas porque disse que não me dou muito bem com o de soja que era o que já lá tinham); o PAN já tem um deputado no parlamento e até nas escolas públicas já existe uma ementa vegetariana obrigatória para as crianças que a queiram pedir (embora se saiba que depois, na prática, as coisas não têm corrido tão bem como deveriam) e aparecem a cada dia novos restaurantes com cada vez mais e melhores opções vegetarianas. A verdade é que o veganismo tem vindo a crescer e os nossos filhos também. E a prova de que são saudáveis (o mais velho, em 6 anos, tomou uma vez antibiótico e umas 3 ou 4 vezes paracetamol) e tão bem desenvolvidos e enérgicos como qualquer outra criança tem ajudado também as pessoas que nos rodeiam a deixarem de questionar as nossas opções.<br />
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Mas, <b>hoje, depois de ler um artigo que falava de alguns casos de crianças que seguiam uma dieta vegetariana e que tiveram problemas de saúde e em que alguns médicos defendem que alguns pais mais "radicais" deverão ser algo de uma intervenção do tribunal, voltei a sentir que afinal ainda é preciso falar muito sobre isto e afinal este tema ainda não é assim tão pacífico como eu começava a julgar. </b><br />
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Se é verdade que é cada vez mais fácil para um adulto ser vegetariano ou vegan e se começam a ser cada vez mais inquestionáveis os benefícios que isto pode trazer para a saúde, também é verdade que afinal ainda existem muitos preconceitos em relação às crianças.<br />
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<b>É verdade que algumas crianças podem ficar mal alimentadas com uma dieta vegetariana, claro, mas também é verdade que existem muitas crianças mal alimentadas com uma dieta omnívora.</b> No tal artigo falavam de casos em que os bebés tinham deixado de mamar por volta dos 5, 6 meses e a partir daí tinham sido alimentados com um leite vegetal qualquer. <b>Em primeiro lugar, é preciso salientar que, ao contrário do que dava a entender o artigo o leite materno de uma mãe vegan é tão bom como o de outra mulher qualquer.</b> Na verdade sabe-se que não existem leites fracos e que o leite materno é sempre o melhor alimento até mesmo no caso de mães altamente subnutridas (o que não quer dizer que seja este o caso de uma mãe vegan, como é óbvio) porque o organismo mobiliza todos os seus recursos para o produzir e para alimentar da melhor forma o bebé. <b>Na verdade o leite materno é muito superior a qualquer leite de fórmula porque tem uma quantidade de anticorpos e uma capacidade de se moldar ao bebé para quem é feito (sabe-se que até se altera naturalmente em função do género, da idade e da saúde da criança) que são impossíveis de reproduzir nas fórmulas. </b>Então, aqui o primeiro erro foi essas crianças terem deixado de ser amamentadas. <b>Depois disso é claro que não se pode alimentar um bebé com um leite vegetal qualquer mas também não se pode alimentar um bebé de meses com um leite de vaca qualquer. </b>É por isso que existem fórmulas feitas de propósito para bebés com menos de um ano e estas fórmulas que tanto podem ser de origem vegetal como animal (afinal existem bebés alérgicos ao leite de vaca que morreriam se tivessem de o beber) são fabricadas especificamente para serem o alimento principal de um bebé, pelo menos até aos 12 meses de idade. É por isso que falamos em alimentação complementar: porque o alimento principal nesta fase é mesmo o leite, materno ou de lata, mas o resto é apenas um complemento. Então a verdade é que provavelmente também existem casos de crianças mal alimentadas e subnutridas porque lhes dão leite de vaca de pacote, dos do supermercado, que não são minimamente adequados para crianças com menos de um ano de idade. E com certeza que existirão também casos de crianças mais velhas com carências muito graves por serem mal alimentadas todos os dias à custa de hamburguers, bolachas, batatas fritas e refrigerantes. Mas destes não se fala tanto, ou pelo menos, quando se fala ninguém pensa em tribunal para esses pais irresponsáveis. Porquê?<br />
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Porque, infelizmente, ainda temos muita dificuldade em lidar com a diferença. E a verdade é que é muito fácil ficarmos presos aos nossos velhos hábitos e termos medo de os ver questionados. <b>E quando essa mudança começa a apertar e a tornar-se cada vez mais óbvio que não podemos continuar com o que temos feito até aqui, é muito fácil começarmos a procurar defeitos nas pessoas que lideram essa mudança e razões para nos fazerem acreditar que ela não é possível. </b><br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8J5na0-46lg57fuRlwCH7I3gPGhx-nEDCdSmhAk96kv5bnLgc_4KAkvt5X7VkrzB2DoqhxhJxEZ5O6STXXt7tCyIlJmv12nFIlBrRh5SjZSNt7bY4lfeWoooGGUtEGoH9g9uvYkulPVs/s1600/IMG_20180418_180549.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8J5na0-46lg57fuRlwCH7I3gPGhx-nEDCdSmhAk96kv5bnLgc_4KAkvt5X7VkrzB2DoqhxhJxEZ5O6STXXt7tCyIlJmv12nFIlBrRh5SjZSNt7bY4lfeWoooGGUtEGoH9g9uvYkulPVs/s320/IMG_20180418_180549.jpg" width="240" /></a></div>
Portugal está a viver um período de seca das maiores da sua história. Na televisão, jornais e meios de comunicação em geral não faltavam notícias sobre a seca e a falta de água, até há bem pouco tempo atrás. E até foi lançada uma campanha para incentivar a poupança de água. Mas a maior parte das pessoas e das notícias parecer querer continuar a ignorar que a indústria animal é a maior consumidora de água do planeta.<br />
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<b>Porque com que cara é que podemos assumir, sobretudo perante as gerações mais jovens, que os nossos gostos são mais importantes que o futuro do planeta?! Com que cara é que podemos olhar os nossos filhos nos olhos e dizer-lhes que comer um bife ou um queijinho só porque nos sabe bem é mais importante do que deixar-lhes um planeta onde ainda se possa viver?! É muito simples, não podemos.</b> Por isso é mais fácil acreditar que é preciso comer carne e é preciso beber leite, mesmo que até os cientistas de Harvard já tenham vindo dizer que o leite deveria sair da roda dos alimentos. É mais fácil continuarmos a acreditar que tudo o que temos feito até aqui tem mesmo de ser feito e que não podemos mudar porque simplesmente não é possível fazê-lo. <b>É mais fácil espalharmos ignorância com este tipo de artigos do que olharmos para tantas pessoas que dão o exemplo de que é possível mudar. </b><br />
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<b>As pessoas que se tornaram vegetarianas ou vegans, na sua esmagadora maioria, não o fizeram por deixarem de gostar de carne, ou leite, ou queijo. Fizeram-no porque escolheram ouvir a sua consciência e porque perceberam que não vivem no mundo sozinhas, que os outros serem têm direito à vida e que não podemos continuar a destruir o planeta como temos feito até aqui.</b> E nesse processo, muitas vezes, foi preciso abdicar de algumas coisas que nos davam prazer e procurar alternativas que, às vezes no início, podem nem parecer tão agradáveis. Mas rapidamente percebemos que não há nada que saiba melhor do que uma consciência tranquila.<br />
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<b>Depois de perceberem isso, muitas pessoas, eu incluída, acabaram também por descobrir que até podiam viver mais saudáveis justamente por mudarem de hábitos. E a verdade é que por sermos obrigados a questionar o que sempre fizemos e a procurar alternativas, os vegans acabam por estar, na generalidade bastante bem informados em relação à alimentação</b>. Vejo muitos pais e mães vegans a esforçarem-se por incluir ómega 3 na dieta dos filhos, por exemplo, usando nozes, sementes de chia e linhaça que são muito fáceis de misturar com outras comidas. Mas muitas vezes defende-se que a dieta omnívora é mais rica nestes nutrientes por causa do salmão e da sardinha, principalmente. Mas eu pergunto, que criança é que come estes peixes com a regularidade suficiente para obter níveis suficientes de ómega 3? Das que eu conheço, nenhuma. E, pela minha parte, posso dizer que quando comia supostamente de tudo deveria quase de certeza ter carência deste nutriente porque não comia nenhum destes peixes, de todo. E nunca tinha ouvido falar sequer em chia ou em linhaça, apesar de comer umas nozes de vez em quando. E este é apenas um exemplo de tantas outras coisas com que só passei a preocupar-de depois de me tornar vegan. Tenho a certeza que não é por acaso que as análises da segunda gravidez estavam melhores que na primeira (em que já não estavam más) até no que diz respeito à anemia.<br />
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E também é verdade que este tipo de alimentos, como a chia e a linhaça, nem sempre fizeram parte da nossa dieta e por isso acabam por ter de ser importados. E, sim, isso polui também, bastante. Ainda assim não tanto como a indústria da carne e a verdade é que é possível pensarmos em cultivá-los de forma mais sustentável, ao passo, que é impossível comer carne regularmente de forma sustentada.<br />
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Mas, a verdade é que sou optimista e que vejo quando leio artigos como este é que realmente o veganismo está a crescer, está a crescer tanto que assusta e incomoda muita gente, ao ponto de se escreverem artigos ignorantes que quase parecem feitos de encomenda para servir a indústria da morte que é a da carne e do leite.<br />
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Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8429157455576509288.post-3652109163233718702015-10-21T08:24:00.002-07:002015-10-21T08:36:52.792-07:00Criar filhos com coração <div style="text-align: justify;">
Há uns dias no caminho o meu filho de quatro anos pisou, de propósito, uma formiga. Sei que, para ele, esse gesto não teve nenhum significado especial. No entanto incomodou-me porque me fez lembrar de uma questão que sempre me acompanhou e que sei que acompanha muitos outros pais: <b>qual será a melhor forma de fazer com que as crianças cresçam a respeitar os animais, e não só?</b> </div>
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Neste caso procurei falar com ele e disse-lhe que a formiga tinha tanto direito à vida como qualquer outro animal e que não é muito bonito matar de propósito e sem necessidade nenhuma um bichinho que, por muito insignificante que nos pareça, é um ser vivo como nós. Mas também não quis dar demasiada importância ao assunto porque sei que para uma criança de quatro anos ainda não é fácil ter consciência do que implica matar ou ter a empatia necessária para compreender tudo o que está implicado nesse gesto. </div>
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Mas, por acaso e mesmo a propósito estive ontem a ouvir uma palestra do psicólogo canadiano Gordon Neufeld, cujo trabalho admiro bastante ( não posso por aqui o link para essa palestra porque é pago, mas deixo o excerto de uma outra em que ele também fala nisto: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=7k0-bs-Z7V4">ver vídeo</a>). Nessa palestra ele falava um pouco de como todos queremos que os nossos filhos se transformem em boas pessoas, em pessoas que se preocupam com os outros mas em como, na verdade, nem sempre lhes damos grande possibilidade de o fazerem realmente.</div>
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Este autor fala muito nas questões do apego e na importância fundamental que tem, para o desenvolvimento de uma criança, sentir que tem os pais presentes, sobretudo nos primeiros tempos de vida e que estes a amam e aceitam incondicionalmente. <b>As crianças nascem completamente prontas para se relacionarem e para estabelecerem laços profundos com as pessoas que cuidam de si. </b>Sabemos que esses laços são essenciais para toda o seu desenvolvimento de uma forma tão importante que a sua falta pode provocar todo o tipo de atrasos cognitivos, emocionais e até físicos e - em casos extremos - pode mesmo levar à morte. Isto foi bem demonstrado com o caso muito estudado das crianças criadas em instituições da Roménia - país em que os anos de ditadura comunista por causa de várias políticas do governo ligadas ao incentivo à natalidade - levaram um número muito elevado de crianças a ser institucionalizado em sítios onde nunca lhes era possível estabelecer um vínculo com um adulto. Aquilo que se descobriu nestas instituições foi que estas crianças apresentavam vários atrasos emocionais, cognitivos e psicomotores mas apresentavam também alguns sinais físicos provocados por essa falta, como uma estatura significativamente abaixo da média e uma taxa de mortalidade muito superior ao que seria de esperar mesmo nas instituições onde não faltava comida e os cuidados médicos e de higiene eram rigorosamente mantidos. </div>
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<a href="https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/5b/20/fe/5b20fee2f3ae285b7c8d132ddd79bee7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/5b/20/fe/5b20fee2f3ae285b7c8d132ddd79bee7.jpg" width="320" /></a>Então aquilo que Gordon Neufeld explica tão bem é que precisamos de dar aos nossos filhos as condições ideais para que eles criem esse vínculo connosco porque, quando isto não acontece, a criança precisa de aprender a defender-se. <b>Todas as crianças tentam adaptar-se o melhor possível ao ambiente em que são criadas.</b> Se nesse ambiente não lhes é possível estabelecer um vínculo significativo e seguro com as pessoas que cuidam de si, a única forma de garantirem que se adaptam o melhor possível e que preservar as ligações que encontram é tentarem esquecer que esse vínculo é importante ou necessário. </div>
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<b>Quando comparamos os seres humanos com outros mamíferos percebemos que nascem muito imaturos. </b>As nossas crias, ao contrário das dos outros animais, precisam de vários meses apenas para conseguirem andar sozinhas e de muitos anos até atingirem algum grau de independência. Então a natureza encarregou-se de nos dotar deste instinto de vinculação que nada mais é que uma forma de garantir a sobrevivência dos bebés humanos que precisam de uma presença constante dos pais durante os seus primeiros tempos de vida. Isto quer dizer que, se por algum motivo, a criança ou o bebé não consegue sentir essa presença isto é tão assustador e vai tão contra todos os seus instintos mais primários que ele precisa de arranjar uma forma de ignorar e de calar esses instintos para que possa adaptar-se o melhor possível a esse ambiente. No caso de algumas crianças institucionalizadas esta falha era tão grande e o preço a pagar por essa adaptação era tão elevado que o seu desenvolvimento ficava seriamente comprometido ou acabava mesmo na morte da criança. </div>
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Mas, no caso de crianças que não passam por situações tão extremas mas que, ainda assim, não encontram as condições ideais o que acontece é que estas crianças precisam de criar algumas adaptações para que não estejam constantemente a sentir a ferida criada por essa ausência. <b>As crianças precisam desesperadamente de estabelecer relações com os pais e, se a única forma de estabelecer essas relações, for calar ou fechar uma parte de si então é isso que farão porque, apesar de tudo, isso é mais fácil do que sentir-se constantemente rejeitado ou ignorado. </b><br />
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E assim a criança aprende que, para viver no mundo, essas adaptações são necessárias e essenciais e estas passam a fazer parte de toda a sua forma de estar, de se relacionar e de encarar a vida e o mundo. De tal forma que, quando crescemos já não temos consciência de que a nossa forma de estar fez parte dessa adaptação e passamos a encará-la apenas como sendo um produto da nossa personalidade que, não sabemos que, na realidade, não é muito mais do que a forma como reagimos a todas as experiências que vivemos e a forma como fomos sendo moldados por elas. </div>
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<b>Então aquilo que Gordon Neufeld afirma é que, quando uma criança é constantemente ferida por alguém que não compreende e não respeita essa sua necessidade de estabelecer um vínculo a sua defesa principal será a de negar essa necessidade. Mas, para o fazer, precisa de fechar uma parte de si, precisa de fechar a parte que se preocupa, que se importa com o que os outros dizem, fazem ou sentem, precisa de fechar a parte de si que quer desesperadamente ser amada e esquecer-se que ela existe.</b> Porque, de outro modo, essa perda torna-se demasiado dolorosa para que a criança consiga viver diariamente com ela. </div>
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Nos casos menos extremos em que essa perda não é total o que acontece é que a criança fica num estado de ambivalência em que fecha apenas algumas partes de si, embora não totalmente. Estes casos são aqueles que se acredita estarem na base de muitas perturbações de ansiedade nos nossos dias que podem ter origem neste sentimento da criança não saber bem com o que poderia contar diariamente e não sentir os pais como uma fonte suficientemente estável ou segura de protecção e de acolhimento. </div>
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<b>Um coração fechado é um coração que não sente empatia, é um coração que não tem a capacidade de se por no lugar dos outros, é um coração que nunca chegou a crescer verdadeiramente, que ficou refém das suas experiências de infância.</b> Gordon Neufeuld diz que a preocupação com os outros acontece naturalmente quando crescemos, porque faz parte do nosso potencial e de um processo evolutivo natural. Mas ele explica também que esse crescimento, apesar de ser sempre possível, não é inevitável, ou seja, se não existirem as condições ideais ele não pode simplesmente acontecer e é por isso que temos tantos adultos imaturos: porque cresceram fisicamente mas, de um ponto de vista psicológico, ainda ficaram presos na infância. Podemos usar aqui a analogia da semente de um carvalho - que era usada por Carl Rogers, pai da psicologia humanista - para ilustrar este ponto: a semente contém em si tudo aquilo que é necessário para se tornar um carvalho, todo esse potencial existe já na sementinha (desde que não seja uma semente estéril da Monsanto) mas esse potencial só pode manifestar-se se o seu ambiente tiver as condições necessárias para o fazer; se não houver água, luz ou um solo adequado a semente morre mas se estas condições existirem mas não de forma suficiente ela pode não crescer tudo ou crescer torta. Por exemplo, se a luz existente for apenas de uma pequena janela no canto de uma divisão a planta pode crescer torta, em direcção a essa luz, tentando aproveitá-la ao máximo. O mesmo acontece com as crianças que, quando não encontram as condições ideais, podemos dizer que acabam por crescer tortas também, ou com distorções daquele que seria o seu comportamento natural caso essas condições existissem. </div>
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<b>Então a única forma de criarmos filhos que se preocupam com os animais, mas também com as pessoas e com o mundo é certificarmos-nos de que criamos as condições necessárias para que possam manter aberto o seu coração</b>. Uma das condições essenciais para que isso aconteça é que sejamos capazes de lhes transmitir, diariamente, o nosso amor incondicional. E, para isso precisamos de ter a certeza de que estamos presentes o suficiente nas suas vidas, para que eles possam manter-se confiantes e seguros. </div>
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Gordon Neufeld explica que, muitas vezes, temos tendência para querer ensinar os nossos filhos a serem crianças afectuosas ou empáticas através das recompensas ou castigos, por exemplo. Mas nenhuma destas duas funciona verdadeiramente: no caso das recompensas estas acabam por perder o seu propósito quando percebemos que, se forem usadas repetidamente, a criança passa a comportar-se daquela forma apenas para receber a recompensa ou o elogio e isto é exactamente o oposto de um comportamento empático ou altruísta. No caso dos castigos a questão é mais grave porque estes servem justamente para ferir a criança na sua necessidade de se sentir próxima de nós e de se sentir aceite. </div>
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Neste caso a conversa que tive com o meu filho não foi propriamente errada ou desadequada, até porque não ouve um julgamento ou castigo da minha parte mas, na verdade, não acho que seja este tipo de conversa que irá fazer verdadeiramente a diferença. Claro que é importante irmos falando com os filhos sobre o seu comportamento e é sempre bom aproveitarmos para os por a reflectir sobre as consequências dos seus actos mas, neste caso, em que eu quero que ele cresça a ser capaz de compreender que não temos o direito de maltratar ou agredir propositadamente nenhum dos outros seres que partilha o planeta connosco (quer sejam animais ou pessoas) a única coisa que me resta fazer é esperar e confiar. Esperar que ele cresça e se torne capaz de ter um comportamento mais empático e confiar que respeitar e cuidar dos outros faz parte da sua natureza e que há-de manifestar-se quando for altura disso e que, aliás, já se vai manifestando noutros aspectos que estão de acordo com o seu nível de desenvolvimento.<br />
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<b>Então a única coisa que nos resta para criar filhos empáticos e que se preocupam é mesmo confiar neles:</b> confiar que as crianças são boas na sua essência e confiar que a empatia e o altruísmo fazem parte da natureza humana (já existem estudos que mostram que os bebés são naturalmente bons: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=FRvVFW85IcU">ver vídeo</a>) e confiar que só precisamos de lhes dar espaço e as condições necessárias para que aprendam a desenvolvê-los. Mas para isso precisamos de aprender a confiar também em nós, precisamos de confiar nos nossos instintos e na nossa capacidade de lhes darmos tudo o que eles precisam. Porque só nós podemos ser os melhores pais para os nossos filhos podem ter.<br />
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<b>Esta confiança não tem nada a ver com uma atitude passiva ou permissiva porque também acredito que os pais precisam de guiar e orientar os seus filhos mas precisamos de o fazer a partir deste lugar de confiança fundamental que deve existir dentro de nós.</b> Precisamos de orientar, sim, de dar o exemplo e de falar e de reflectir sobre o comportamento e as suas consequências de acordo com a idade de cada filho (e claro que com crianças mais velhas estas conversas vão-se tornando mais importantes) mas precisamos acima de tudo de saber que o contributo mais importante que podemos dar para a sua educação e para que cresçam sensíveis e empáticos é fazê-los sentir sempre aceites, acolhidos e amados incondicionalmente por nós. Precisamos de nos lembrar que mais do que moldar as crianças temos de dar-lhes espaço para que a sua verdadeira natureza possa manifestar-se e precisamos de acreditar que essa natureza é essencialmente boa e orientada para os relacionamentos e para o cuidado com o outro.<br />
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Ninguém vive feliz sem bons relacionamentos e já há estudos que demonstram que a solidão mata mesmo aumentando muito as probabilidades de se vir a sofrer um ataque cardíaco, também já existem estudos que mostram que a dor da rejeição activa no cérebro exactamente as mesmas áreas que a dor física. Isto demonstra que todos temos esse desejo fundamental de ser acolhidos, de nos ligarmos aos outros. Também já existem estudos que demonstram que os bebés nascem já com um sentido de justiça (<a href="https://www.youtube.com/watch?v=FRvVFW85IcU">ver vídeo</a>) e outros que demonstram que as crianças pequenas já têm tendência para recompensar os comportamentos altruístas (<a href="http://www.nytimes.com/2015/06/23/science/toddlers-have-sense-of-justice-puppet-study-shows.html?_r=0">ver artigo</a>). Porque os seres humanos estão realmente programados para viver em grupo e porque essas ligações sociais são tão importantes para nós realmente nem faz sentido que não esteja na nossa natureza preservar as ligações e ter comportamentos altruístas. E a empatia é uma forma essencial de preservar as ligações, já que sem ela ficamos desligados dos outros. E quando temos a capacidade de sentir empatia pelas outras pessoas também se torna mais fácil sentir empatia pelos animais mesmo por aqueles que nos parecem tão distantes e tão diferentes de nós. Porque significa que temos a capacidade de abrir o coração e que estamos disponíveis para nos deixarmos tocar pelos outros com o que isso tem de bom nos momentos felizes, mas também com o que isso tem de mau nos momentos difíceis. Então isso quer dizer também que aprenderemos rapidamente a evitar o sofrimento dos outros porque percebemos que, quando vivermos de coração aberto, esse sofrimento também nos magoa a nós.<br />
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Por isso acredito que se queremos criar filhos que não se tornem cúmplices do sofrimento a que os animais são diariamente sujeitados hoje em dia precisamos de lhes dar as condições necessárias para que não precisem de fechar o coração. Porque com o coração aberto esse sofrimento nunca nos poderá ser indiferente, porque de coração aberto nunca nos sentiremos capazes de ser cúmplices desse massacre constante a que os animais da indústria alimentar são sujeitos.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgjReIwqRE2sMEHPUSkaN8mBuVZbK4KjpbASHACA_Dn1F-UnPVVRoHI8ZO1CMSegvopBFfxPe0O_tMc61fb8BwHvoPjKyll4v075az9jYFzHKtAK0Z4TOR7VjEs368GpVf_wIA403n9c0/s1600/foto1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgjReIwqRE2sMEHPUSkaN8mBuVZbK4KjpbASHACA_Dn1F-UnPVVRoHI8ZO1CMSegvopBFfxPe0O_tMc61fb8BwHvoPjKyll4v075az9jYFzHKtAK0Z4TOR7VjEs368GpVf_wIA403n9c0/s320/foto1.jpg" width="240" /></a>Por isso, para além deste blog, tenho também um outro sobre parentalidade: <a href="http://ntalidadecomapego.blogspot.com/">Parentalidade com Apego</a>, porque acredito que só podemos criar um mundo melhor quando formos capazes de respeitar verdadeiramente as crianças e de compreender as suas necessidades e só teremos adultos que respeitam verdadeiramente os animais quando nos permitirmos viver num mundo onde não precisamos de fechar o coração. Porque só quando pudermos viver tranquilamente de coração aberto e que podemos finalmente abrir também os olhos para todas as injustiças deste mundo. E só com o coração aberto é que essas injustiças poderão finalmente ganhar um peso demasiado grande para que nos resignemos a suportá-las, só com o coração aberto é que poderemos ter esperança que um mundo melhor se torne realmente possível. </div>
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E porque só com o coração aberto é que nos podermos sentir verdadeiramente maduros a cumprir todo o nosso potencial, E só com o coração aberto é que uma vida verdadeiramente feliz e plena se pode tornar possível. </div>
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Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8429157455576509288.post-26335724808267856952015-07-16T08:20:00.003-07:002016-10-23T02:04:21.105-07:00Amamentação Natural <div style="text-align: justify;">
Durante a maior parte da minha vida nunca me questionei de onde vinha o leite ou os iogurtes e queijos que me apareciam na mesa. Quando deixei de comer carne e peixe passei também a comprar leite e natas de soja (que, na altura, eram a única opção que conhecia) para fazer tudo mas, durante muito tempo, continuei a comer queijo e iogurtes de vaca sem me questionar muito sobre isso. Só quando me tornei mãe e o meu filho começou a ter muitos sintomas de intolerância ao leite de vaca (como já contei <a href="http://familiavegan.blogspot.pt/search/label/Como%20tudo%20come%C3%A7ou">aqui</a>) é que comecei a questionar o papel do leite de vaca na nossa alimentação e, ao mesmo tempo, comecei também a perceber todo o sofrimento e crueldade que estão envolvidos na indústria dos lacticínios. </div>
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Até essa altura, como tantas outras pessoas, eu pensava simplesmente que as vacas davam leite e pronto. Hoje em dia tenho noção de como era absurdo esse pensamento mas, a verdade, é que não é fácil aprendermos a questionar aquilo que toda a vida temos dado como adquirido. A verdade é que está tão incutida esta ideia de que as vacas existem quase de propósito para nos dar leite que eu dou comigo, várias vezes, a explicar ao meu filho que isto não é bem assim. Não sei se é por causa dos desenhos animados, ou porque lhe dizem na escola, o que é certo é que várias vezes o meu filho me diz que as vacas "dão" leite e eu respondo sempre que é verdade, que as vacas têm leite para os filhotes delas, assim como eu tinha leite para ele quando era mais pequeno. Mas isto está de tal maneira incutido na nossa sociedade e em todo o seu discurso carnista que é difícil de combater, como mostra a conversa que tive com ele há dias. Estávamos a chegar à escola e eu abri o frigorífico para deixar o lanche dele. Lá dentro estava um pacote de leite de vaca e o meu filho olhou para ele e disse: "Este leite é de vaca. Vês? Tem uma vaca desenhada, diz leite de vaca." Eu confirmei que sim, que era leite de vaca e ele respondeu-me: "este leite é da C., a vaca deixou a C. beber o leite dela. A vaca foi simpática para a C." Na altura, para dizer a verdade, nem soube bem o que lhe responder a isto. Porque quero que ele perceba que não temos o direito de tirar o leite às vacas mas também ainda não acho que seja altura para lhe explicar todo o sofrimento que isso envolve. </div>
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Então, uma das coisas que me parece importante clarificar e que me esforço por lhe transmitir, é que as vacas realmente têm leite, tal e qual como as mulheres têm para os filhos. <b>Vivemos numa época em que nos parece mais natural beber leite de um animal de outra espécie, que nunca vimos nem conhecemos, trazido até nós num pacote depois de passar sabe-se lá porque processos, do que ver uma mãe a dar de mamar a um bebé ou criança no meio da rua.</b> Infelizmente existem ainda muitos mitos, tabus e preconceitos acerca da amamentação que prejudicam muitos bebés e muitas mães, que acabam por recorrer a fórmulas artificiais, feitas com base em leites de outra espécie e que têm muito pouco de bom a oferecer à nossa. </div>
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Por isso considero que faz todo o sentido falar de amamentação e de veganismo. <b>Porque o que é natural é as mães darem de mamar aos filhos e não usarem biberões cheios de leite de outra espécie para os alimentar. E, se compreendermos que dar de mamar é um processo natural e simples, desde que não o compliquemos, podemos deixar em paz as vacas com o leite que produzem para os filhos delas e não para os nossos.</b> Porque não temos o direito de promover o sofrimento de outro animal simplesmente porque achamos que é mais cómodo para nós ou que é essencial para a saúde dos nossos filhos quando, na verdade só os prejudica. </div>
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<a href="http://ih0.redbubble.net/image.48583441.8910/fc,550x550,white.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://ih0.redbubble.net/image.48583441.8910/fc,550x550,white.jpg" width="320" /></a></div>
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As estatísticas mostram que, infelizmente, as mães que amamentam por mais de dois anos (o mínimo recomendado pela OMS) são muito poucas. Infelizmente a maior parte dessas mães pensa que pode suprimir essa falta recorrendo ao leite de vaca, o que não é bem verdade. O leite materno é perfeitamente adaptado às necessidades dos bebé e sabe-se que até vai mudando de composição à medida que a criança cresce, para se adequar ás suas necessidades. Há estudos que até já demonstraram que o leite que as mães produzem para os rapazes é diferente do das raparigas. </div>
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Então há algumas coisas aqui que importa questionar:</div>
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Primeiro: <b>As vacas, tal como as mulheres, só dão leite se tiverem crias.</b> Por isso têm de ser inseminadas de forma que me parece bem desagradável e dolorosa, para irem tendo filhos. Mas, para que o leite possa ser todo para consumo humano não se podem deixar os filhotes mamar. Aqui há industriais que são, supostamente, um pouco mais humanos e podem deixar os filhotes mamar alguns dias mas, na maior parte dos casos, estes são imediatamente afastados das mães (que sofrem com a sua falta como se pode ver <a href="https://www.youtube.com/watch?v=gZBFStgD_e0">aqui</a>) e, se forem fêmeas passam a fazer parte da indústria, se forem machos podem ser vendidos à indústria da carne ou mortos, como foi o caso dos vitelos dos Açores que foram incinerados durante muitos anos, simplesmente porque isso era o mais barato e porque se os vendessem para comer, seriam tantos, que o preço da carne desceria demasiado para os produtores. </div>
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<br />
E, porque uma cria a mamar é mais eficaz que uma máquina, tal como acontece nas mulheres, as vacas precisam de ser repetidamente engravidadas para poderem continuar a dar leite porque se não este acaba-se com alguma rapidez. </div>
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<b>Depois de ultrapassada a questão da violência e dos vários abusos que existem na indústria do leite -que basta pesquisar um pouco para se concluir que existem - algumas pessoas dizem que se tiverem vacas e as tratarem bem, então, não faz mal nenhum tirar leite e elas até agradecem porque se não podem ter mastites ou outros problemas</b>. Eu não percebo grande coisa de vacas mas percebo alguma coisa do processo de amamentação nas mulheres e sei que essa ideia de que é preciso andar sempre a tirar leite é justamente o que está na base de muitas mastites que levam muitas mães a desistir de amamentar. Porque a produção é regulada em função daquilo que o bebé mama, por isso, se andamos sempre a tirar leite o corpo pensa que precisa de produzir muito mais leite do aquele que é necessário e, porque tirar leite com máquina nunca é tão eficaz como por um bebé a mamar, isso pode levar ao entupimento de alguns ductos e causar mastites. </div>
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<br />
<b>Na verdade, basta pensarmos um pouco, que sentido faria a natureza criar um animal que precisasse da nossa ajuda num processo tão básico e tão natural como a amamentação? </b>É verdade que as vacas da indústria leiteira já passaram por alguma selecção para que produzam mais leite do que aquele que seria de esperar, ainda assim, quando muito, nesses casos admito que talvez pudesse ser necessário aliviar um pouco o seu desconforto, muito esporadicamente, deixando sair apenas algumas gotas em caso de engurgitamento. Tal e qual como se recomenda nas mulheres, sendo que, também nestes casos o melhor remédio para uma mastite é mesmo por o bebé a mamar o máximo possível, ao contrário daquilo que tantas vezes se pensa e recomenda. </div>
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<b>Neste processo, como em alguns outros ligados ao nascimento e cuidado das crianças, acredito que nos esquecemos do que é natural.</b> Por isso confiamos mais no leite artificial, feito pela indústria com base no sofrimento das vacas, do que no nosso próprio corpo e caímos nos mitos do leite fraco, coisa que se sabe que não existe. Estou neste momento a ler um livro que conta a história de três bebés que nasceram em Auschwitz, nos campos de extermínio nazi e um dos aspectos impressionantes da sua sobrevivência é que foi o leite das suas mães, altamente sub-nutridas, que lhes permitiu viver. No caso dessas mães, o organismo delas, sub-nutrido por anos de fome e outras privações extremas, conseguiu, ainda assim, reunir todas as condições necessárias para alimentar e dar vida àqueles bebés. Uma delas conta que ficou mesmo com problemas graves nos ossos porque o corpo foi buscar-lhes todo o cálcio que podia para produzir esse leite. Isso mostra como o corpo humano é sábio e competente. E como não existem leites fracos, o leite materno é sempre o melhor alimento para um bebé. </div>
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Quando houve o terramoto no Nepal, o governo nepalês emitiu mesmo um pedido para que não fosse enviada nenhuma ajuda alimentar para crianças com menos de dois anos. Isto porque, nestas alturas, é comum que os países mais ricos desatem a enviar biberões e fórmulas infantis que as pessoas acabam por acreditar que são melhores para os seus bebés do que o próprio leite das mães (justamente porque estas estão a passar fome) e isto acaba sempre por estar na origem de muitas mortes. Primeiro porque o leite de fórmula será sempre indiscutivelmente mais pobre em termos de nutrientes e depois porque, preparado em condições de higiene mínimas pode provocar diarreias que, mais uma vez o leite materno seria a melhor forma de combater. </div>
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<b>Quando se fala de veganismo também está muito presente a ideia de que as crianças, pelo menos, precisam de cálcio e têm de ir buscá-lo ao leite.</b> É verdade que as crianças precisam de cálcio e, apesar deste poder ser encontrado em todos os vegetais de folhas verdes (e esta é mesmo a melhor fonte de cálcio depois do desmame)<span style="text-align: center;">, acredito que a melhor fonte de cálcio nos primeiros dois anos é o leite. Mas é o leito materno e não das vacas. Por isso mesmo é que a OMS recomenda que a amamentação dure pelo menos dois anos, não só por causa do cálcio mas também por todos os benefícios que se sabe que o leite materno tem para o sistema imunitário da criança, ainda em formação e para o qual o das vacas nada contribui, antes pelo contrário. </span></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjY-t8sr2ohao9fUwYn5UCu_5wWmdC7JV5AUx1Q7F880PMD6TR1hVLFQ0Hk-boxMssRor-5R0-ZYHJ5drPvhUQtsJaNljXH5Le5g_6-crtXc13z1mvmJRojw2oZy8jvvXaGO2x1mD8_lA/s1600/0418fda6-97fe-4e47-bbdf-a8bee44d19a3_1376326_10151986276631719_1253915294_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjY-t8sr2ohao9fUwYn5UCu_5wWmdC7JV5AUx1Q7F880PMD6TR1hVLFQ0Hk-boxMssRor-5R0-ZYHJ5drPvhUQtsJaNljXH5Le5g_6-crtXc13z1mvmJRojw2oZy8jvvXaGO2x1mD8_lA/s1600/0418fda6-97fe-4e47-bbdf-a8bee44d19a3_1376326_10151986276631719_1253915294_n.jpg" /></a></div>
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Mas depois desses dois anos as crianças ainda podem continuar a mamar. Dependendo dos critérios que quisermos usar ou analisar a idade natural do desmame para a nossa espécie anda entre os 2,5 e os 7 anos de idade. <b>Então é importante que comecemos a fomentar a ideia de que é naturalíssimo uma criança de dois ou três anos mamar. Mais natural do que carregar pacotes de leite do supermercado. E mais saudável, mais ecológico e muito mais barato. </b></div>
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E depois não precisamos de ter medo que as crianças nunca mais larguem a mama porque, melhor do que ninguém, elas sabem quando fazê-lo. Nenhuma criança quer mamar para sempre, se lhes dermos tempo e espaço elas acabam por parar sozinhas, sem pressões, sem stresses e sem traumas. E não faz mal nenhum uma criança mamar até mais tarde. A amamentação não é só alimento, é também conforto, carinho, segurança, proximidade. E essas coisas nunca são demais. Nenhuma criança fica traumatizada por mamar até tarde, ao contrário do que muitos psicólogos defendem mas muitas ficam traumatizadas por falta de carinho e acolhimento.</div>
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Quando comecei a informar-me e a ler mais sobre amamentação senti o mesmo que senti depois com o veganismo: não podemos acreditar em todos os mitos que nos vendem. Precisamos de procurar informação e de pensar pela nossa cabeça. <b>Há muitos mitos em relação ao veganismo e também há muitos mitos em relação à amamentação: </b>o mito do leite fraco, o mito de que a criança vai ficar traumatizada se mamar até tarde, o mito de que temos que as obrigar a parar de mamar, o mito de que o leite da mãe só não chega, o mito de que o leite acaba de um dia para o outro, o mito de que nem todas as mães têm leite. Tudo isto são mitos que foram muito alimentados pelos médicos e pela indústria sobretudo nos anos 60 e 70 mas que, felizmente, têm vindo cada mais vez a ser desconstruídos. </div>
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Em relação a estes dois últimos resta só dizer que o<b> leite da mãe é sempre suficiente</b>, pode haver alturas em que o bebé tenha dificuldade em mamar ou não esteja a fazer uma boa pega mas isso resolve-se com o apoio de uma CAM (conselheira de amamentação). <b>O que acontece é que vivemos tão desligados dos instintos que já nem sabemos ajudar os bebés a seguirem os seus.</b> E todos os processos não naturais do parto e intervenções que se lhe seguem também contribuem muito para bloquear os instintos do bebé e isso pode criar muitas dificuldades na amamentação. Às vezes os bebés têm muita dificuldade em mamar e precisam mesmo de ser ajudados mas isto não quer dizer que a mãe não tenha leite ou que tem pouco. Infelizmente os médicos são os primeiros a desistir e a incentivar o biberão e nestes casos a mãe nem tem possibilidade de perceber que o problema não era seu. E vivemos uma altura em que, muitas de nós, tiveram mães que não conseguiram amamentar e que ainda ajudam a perpetuar estes mitos. </div>
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<br /></div>
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<b>E o leite também não se acaba nunca de um dia para o outro.</b> Pode parecer que sim porque nem sempre conseguimos extraí-lo quando precisamos. Muitas mães que dão de mamar durante anos não conseguem tirar nem uma gota com as bombas, justamente, porque produzir leite não é um processo puramente mecânico e, muitas vezes, só a presença do bebé é que dá início a essa produção. Muitas mães pensam que ficaram sem leite porque o peito parece vazio e deixa de estar inchado mas isto acontece porque, a partir de certa altura, a produção estabiliza e o corpo passa a produzir só quando o bebé vem à mama e deixa de armazenar. Mesmo quando uma mulher pára de amamentar é comum que ainda tenha leite durante vários meses. </div>
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<b>Outra ideia comum é a de que nem todas as mulheres têm leite mas isto também não é verdade.</b> Salvo algum problema grave (que geralmente também impede a gravidez) todas as mulheres podem produzir leite (a menos que tenham feito operações ao peito que tenham comprometido os ductos). Isto é tão verdade que até existem vários casos de mães adoptivas, que nunca engravidaram, e conseguem produzir leite e amamentar os seus filhos. </div>
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Basta pensarmos um pouco, se a espécie humana tivesse dependido desde sempre das vacas para alimentar as suas crias, há muito que estávamos extintos, porque só há relativamente pouco tempo é que o leite passou a ser um alimento assim tão acessível. Assim como as vacas também já se teriam extinguido há muito tempo se também estivesse dependentes de nós para lhes tirar leite e não terem infecções. </div>
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Então aquilo que, enquanto sociedade, precisamos urgentemente de fazer é normalizar ao máximo a amamentação, confiar no nosso corpo e nos nossos instintos, deixar os fantasmas de lado, perder os medos e ignorar os mitos. Precisamos de encarar com normalidade a amamentação tanto nos bebés como nas crianças e é preciso que nos habituemos a ver crianças mamar, a saber que isso é natural e que faz parte. As mães que amamentam crianças um pouco mais crescidas sabem que são mal vistas se o fizerem no meio da rua mas ninguém se incomoda quando vê uma criança ou adulto a beber um copo de leite ou a comer um iogurte.<b> Eu quero que o meu filho cresça num mundo onde o amor e o carinho que estão envolvidos no acto de amamentar um filho sejam algo natural e onde toda a violência escondida no copo de leite ou num pedaço de queijo seja cada vez mais vista como repugnante e desnecessária.</b> Porque dar de mamar é natural e é amar, acarinhar e dar amor e roubar leite a outra espécie que violentamos diariamente por causa do nosso egoísmo é um acto de violência a que precisamos de por fim. </div>
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<b>Quero que o meu filho cresça num mundo onde uma criança de dois, três, quatro ou seis anos pode mamar à vontade sem que ninguém ache estranho ou inadequado e onde o estranho passe a ser a violência e a agressividade a que submetemos diariamente todos os animais deste mundo apenas por ignorância.</b> Por isso este é um tema de que não me canso de falar e um tema que acho que é fundamental discutir, debater e esclarecer. Para que haja cada vez menos mitos. Porque se todas as mães conseguirem dar de mamar até mais tarde, ganham os bebés que ficam com uma saúde muito melhor, ganham as mães que se sentem mais capazes, competentes e ficam com mais oxitocina que atá já se sabe que pode prevenir a depressão pós-parto, ganham as vacas porque podemos deixá-las em paz e ganha o planeta porque podemos reduzir muito toda a poluição associada à indústria do leite. </div>
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( Ler outro texto que escrevi sobre este tema: <a href="http://parentalidadecomapego.blogspot.pt/search/label/Amamenta%C3%A7%C3%A3o%20-%20Alimentar%20com%20Amor">aqui</a>) </div>
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Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8429157455576509288.post-42566872116394743422015-07-03T04:51:00.004-07:002018-07-05T07:51:46.250-07:00Empatia e sofrimento <div style="text-align: justify;">
Há coisas sobre as quais me custa escrever porque quase me quero recusar a acreditar que ainda existem. As touradas são uma delas. Mas, infelizmente, tivemos ontem mais um desses tristes espectáculos na nossa televisão pública, pago com o dinheiro dos nossos impostos, e que me deixou a pensar em algumas coisas. </div>
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<br /></div>
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Nem vale a pena entrar em grandes discussões sobre se os touros sofrem ou não. Se olharmos bem, para dentro do nosso coração, todos sabemos bem que sim. Claro que sim, todos os animais sentem dor, medo, receio. Todos sem excepção, por muito grandes ou majestosos que nos pareçam. Então o que é falta para que as pessoas que gostam de tourada o percebam? Sinceramente não sei. Falta-lhes provavelmente a capacidade de entrarem em contacto com as suas próprias emoções. </div>
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<br /></div>
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<a href="http://basta.pt/wp-content/uploads/basta-touradas-plataforma-anti-touradas.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://basta.pt/wp-content/uploads/basta-touradas-plataforma-anti-touradas.png" height="167" width="320" /></a></div>
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<b>A empatia é uma característica essencial para qualquer ser humano</b>. Sentir empatia é o que nos permite sermos capazes de estar no lugar do outro. Sentir empatia permite-nos, durante alguns instantes, sentir aquilo que outra pessoa sente, ou outro animal, neste caso. Alguns investigadores descobriram que temos aquilo a que chamaram neurónios espelho, que estão na base da nossa capacidade de sentir empatia. Estes neurónios são neurónios que se acendem em função daquilo que vemos os outros fazer ou que ouvimos dizer. Por exemplo, se alguém nos está a contar uma história de grande sofrimento estamos verdadeiramente disponíveis e a ouvir essa pessoa, é possível que, no nosso cérebro, se acendam as partes que correspondem a esse sofrimento, fazendo com que nós também sejamos capazes de o sentir. <b>E a ciência também descobriu que, no nosso cérebro, a dor física e a dor psicológica têm muitas semelhanças e produzem resultados muito idênticos</b>. </div>
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<br /></div>
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I<b>sto quer dizer então que temos, dentro de nós, até de um ponto de vista fisiológico, uma certa tendência para não querer que os outros sofram e para querer o seu bem</b>. Porque, quando tudo está bem e estamos ligados aos nossos instintos, sofremos com o sofrimento dos outros. E porque os nossos neurónios espelho também podem activar-se em resposta à felicidade dos outros, fazendo com nos sintamos felizes com a sua felicidade. </div>
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<br /></div>
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<b>Então, naturalmente a empatia é algo que faz com que tenhamos vontade de tratar bem os outros, de os ver bem e felizes.</b> E a capacidade de sentir empatia faz-nos sofrer quando vemos o sofrimento dos outros. </div>
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<b><br /></b></div>
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<b>Então, porque é que as pessoas na tourada não sofrem quando vêem o touro sofrer? </b></div>
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<b><br /></b></div>
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Porque, a partir do momento em que lhe é infligida dor física, tem de ser inquestionável esse sofrimento. A partir do momento em que o animal está a ser encurralado, provocado e atacado, ainda por cima em frente a uma multidão ruidosa, com luzes, barulho e tudo aquilo a que ele não está habituado e que nunca encontraria no seu ambiente natural, tem de ser reconhecido que existe sofrimento. Não é realista pensar que um touro não sofre na tourada porque, nesse caso, a evolução natural da espécie também não faria sentido nenhum. Um animal tem que ter um instinto de protecção, sem ele nunca saberia defender-se na natureza. Se um animal nascesse sem medo, isso significava que não saberia proteger-se e a selecção natural faz demasiado sentido para que isso possa acontecer. <b>O medo é o que nos faz procurar protecção e pode servir para nos salvar a vida</b>. Já ouvi defensores da tourada dizerem que o touro não tem predadores por isso não precisa de ter medo, mas tem: tem as pessoas. Infelizmente os touros têm predadores há muito tempo e, infelizmente, esses predadores somos nós. O facto de um touro atacar quando se sente atacado não quer dizer que não tenha medo. Quando as pessoas gritam ou batem em alguém que as ataca, não quer dizer que não estejam cheias de medo. Quer dizer apenas que, naquela altura, não somos capazes de encontrar outra solução. </div>
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<br /></div>
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Mas, na verdade isso nem é importante. <b>Porque nem precisamos de saber se um animal está a sofrer de verdade ou não para sentir compaixão por ele</b>. Porque a empatia e a compaixão têm de ser instintivas. A<b> empatia e a compaixão não dependem destas racionalizações e não dependem da nossa capacidade de esgrimir argumentos sobre se um bicho está ou não a sofrer quando é atacado.</b> A empatia é algo que se sente não algo que se pensa. </div>
<div style="text-align: justify;">
Por isso o importante é perceber o que é que impede os aficionados de sentirem empatia pelo touro? </div>
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<br /></div>
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Alguns estudos mostram que sentimos mais facilmente empatia pelas pessoas com quem nos identificamos. É mais fácil sentir empatia por alguém que conheço e com quem tenho uma ligação ou com alguém que sinto ser igual a mim. Esta é uma das razões pelas quais acontecem tantas guerras: porque é mais fácil ignorar o sofrimento daqueles que sinto serem muito diferentes de mim. Na verdade isto foi altamente explorado pelos nazis ao tentarem convencer as pessoas que os judeus, e não só, eram muito diferentes delas, impedindo-as assim de sentir empatia por eles. Não podemos dizer que todos os alemães ou todos aqueles que não fizeram nada para impedir o holocausto eram maus. Assim como não podemos dizer que todos os que vão ou gostam de touradas são maus. </div>
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<br /></div>
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<b>Mas então o que acontece com essas pessoas que as impede de se ligarem a esse sofrimento que é tão visível? </b></div>
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<br /></div>
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Não sei se alguma vez foi feito algum estudo para caracterizar as pessoas que gostam de touradas mas seria interessante que o fizessem, pois acredito que poderia explicar muita coisa. </div>
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<br /></div>
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Por um lado, provavelmente, há nessas pessoas uma tendência para a racionalização excessiva. E é a racionalização que nos impede de sentir e que pode servir de bloqueio à empatia. </div>
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<br /></div>
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Por outro lado, provavelmente, há uma incapacidade de encontrarem algum tipo de ligação com os touros. Muitos nazis tinham filhos e seriam incapazes de os ver sofrer, por exemplo. Mas, quando estavam perante o sofrimento dos judeus, crianças incluídas, faziam esta categorização que os impedia de os verem como pessoas iguais a si e que, por isso, sofriam o mesmo. Do mesmo modo também os brancos que tinham escravos e os castigavam só conseguiam fazê-lo porque se sentiam muito diferentes deles, porque eram capazes de os colocar numa categoria à parte de não-pessoas, que não sentiam as coisas do mesmo modo que eles e por isso os seus neurónios espelho não eram activados com esse sofrimento. </div>
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<br /></div>
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Se é possível fazer isto com as pessoas ainda mais fácil será fazê-lo com animais. Fazemos menos isso com cães e gatos porque vivemos com eles diariamente, estabelecemos ligações e é mais fácil estabelecer aí uma ponte com eles. Mas é mais difícil com outros bichos, mais distantes que sempre nos habituámos a ver como estando numa espécie de categoria à parte. </div>
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<br /></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwXca0mXWdoNsNWeTcFOJiU8cTtxuqW1O1yFG0JDEQl-pxKg3vyIoGi051ix_vhhpIhXhKQQIZnvL-qqmsUniBnaidi2HiELxTEr0tDOR4nNAG43Eot6uzK2nC3QHhUMgCkxt6vFNSCx4/s1600/tourada.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="224" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwXca0mXWdoNsNWeTcFOJiU8cTtxuqW1O1yFG0JDEQl-pxKg3vyIoGi051ix_vhhpIhXhKQQIZnvL-qqmsUniBnaidi2HiELxTEr0tDOR4nNAG43Eot6uzK2nC3QHhUMgCkxt6vFNSCx4/s320/tourada.png" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mas, na verdade, enquanto não formos capazes de estender a nossa empatia a todos os seres, mesmo aqueles que nos parecem mais diferentes e enquanto não nos mentalizarmos que, em alguma parte de nós, temos muitas coisas em comum com todas as pessoas e com todos os animais, como a sensação de medo e o instinto de protecção, por exemplo, então haverá muito pouca esperança de que acabem os conflitos no mundo.</b> </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Enquanto insistirmos que temos o direito de nos divertir com o sofrimento de outro ser, então precisaremos sempre de nos refugiar na racionalização e de negar a nossa capacidade de sentir empatia</b>. Porque se não o fizermos não seremos capazes de ver um bicho a sofrer e, não só não fazer nada, como ainda achar piada. Se não fizermos isso, se não desligarmos a nossa parte que sente e não bloquearmos a nossa capacidade natural de sentir empatia e de nos ligarmos ao coração dos outros sejam animais ou pessoas, então é impossível assistir serenamente a um espectáculo desses. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Não sei se alguma vez se fizeram estudos sobre o impacto das touradas na sociedade mas acredito que esse vai muito para além do sofrimento que causam aos animais. Porque numa tourada não é só o touro que sofre, numa tourada sofrem os nossos instintos mais básicos de nos ligarmos a outro ser. Quando só somos capazes de sentir empatia por quem julgamos ser igual a nós a nossa vida também fica mais pobre porque se nos desligamos do sofrimento dos outros também nos desligamos da sua felicidade</b>. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E quem não perde essa capacidade pode ser feliz com a felicidade dos outros, pode ser feliz por ver um animal livre, na sua vida, sem sofrimento infligido propositadamente. Na verdade, quem consegue não perder essa ligação ao coração dos outros tem muito mais oportunidades de estar bem, de estar feliz, porque a felicidade passa por criarmos relações de harmonia, não de violência ou de agressão. A felicidade passa por encontrarmos formas de estarmos todos juntos nesta terra sem violências desnecessárias, sem desrespeitar a liberdade dos outros. A felicidade verdadeira vem de nos sabermos mais iguais do que diferentes, de reconhecermos que, mesmo nos olhos de quem nos parece tão diferente como um touro bravo, há um coração, há um sentimento de estar vivo e um instinto de querer estar bem e a felicidade vem de reconhecermos que respeitar esse instinto é respeitar o nosso instinto também. O nosso instinto de construir vidas mais felizes e respeitadoras para todos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Porque a verdadeira felicidade vem de sermos capazes de escutar o coração e nunca será possível fazê-lo enquanto nos recusarmos a ver o sofrimento que existe mesmo defronte dos nossos olhos.</b> A ciência mostra cada vez mais que já nascemos programados para estabelecer relações, existem estudos que demonstram que a solidão aumenta cerca de 50% as probabilidades de sofrermos um ataque cardíaco, porque o homem é um animal social. Porque precisamos dos outros para nos sentirmos bem, para sermos felizes. Mas a única forma de não nos sentirmos sozinhos é perdemos o medo de abrir o coração e de estabelecer pontes para outros corações e isso só é possível se não precisarmos de bloquear o nosso coração, se não tivermos medo de sentir empatia mesmo por aqueles que parecem tão diferentes de nós. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nunca poderemos ser felizes enquanto nos recusarmos a sentir empatia e a ver o sofrimento que existe mesmo diante dos nossos olhos. </div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8429157455576509288.post-71185460515861259572015-06-03T03:54:00.001-07:002015-06-03T03:56:36.783-07:00Crescer com saúde e consciência <div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Há dias li o excerto de um livro (A enzima prodigiosa, de Hiromi Shinya) em que este médico falava da sua ida para os estados unidos e de como a sua mulher e filhos pequenos começaram a ficar muitas vezes doentes neste país. Depois de várias complicações de saúde e de alguma pesquisa da sua parte, ele concluiu que estas doenças se deviam a uma mudança na alimentação que passou a incluir muito mais lacticínios quando se mudaram para esse país. Hiromi Shinya conta também que quando os retiraram completamente desapareceram a dermatite atópica da filha, a colite do filho mais novo e o lúpus que, entretanto tinha sido diagnosticado à sua mulher também regrediu muito. Depois disto ele explica que começou<span style="background-color: white; color: #666666; line-height: 16.0799999237061px;"> </span><span style="background-color: white; line-height: 16.0799999237061px;"><span style="color: blue;">"a compreender como a dieta é essencial para a nossa saúde. Isto aconteceu há mais de cinquenta anos e desde então examinei estômagos e cólones e estudei a história alimentar de mais de 300 000 pacientes.</span></span></span></div>
<div>
<div style="background-color: white; line-height: 16.0799999237061px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em;">
<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><span style="color: blue; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Dediquei toda a minha vida a entender o corpo humano, na saúde e na doença. (...). Apercebi-me de que os médicos e os pacientes devem dedicar mais tempo a compreender os mecanismos da saúde do que a combater as doenças.<br /><b>Nascemos com o direito à saúde; estar saudável é natural</b>."</span></span></div>
<div style="background-color: white; line-height: 16.0799999237061px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Esta última frase deixou-me a pensar em algumas coisas. Por um lado pensei no meu filho que está quase a fazer 4 anos, prestes a terminar o seu primeiro ano de escola, nunca tomou um antibiótico, nunca passou mais de 36 horas com febre e, este ano - que foi o seu primeiro ano de escola - faltou apenas um dia por ter estado doente. Na última consulta com a pediatra antes da entrada na escola ela tinha-se despedido dizendo que, provavelmente, íamos ver-nos antes da consulta de rotina seguinte, visto que esta entrada costuma trazer sempre várias doenças. Quando lá voltámos, apenas para a consulta de rotina, para pesar e medir, ela ficou espantada com as poucas vezes que ele esteve doente este ano (teve febre 3 vezes, mas todas passaram em menos de 36 horas, sem medicação) e com o facto de nunca ter tomado antibiótico e até comentou que não haveria muitos que pudessem gabar-se disso. </span></div>
<div style="background-color: white; line-height: 16.0799999237061px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; line-height: 16.0799999237061px;"><b>Não defendo que a saúde do meu filho se deva apenas ao facto de ser vegan</b>, acho que se deve a um conjunto de factores. Acredito que o meu filho é uma criança saudável por não consumir carne, nem lacticinios, por exemplo, mas também porque não come açucar, não bebe refrigerantes, consome pouquíssimos produtos processados e come imensa fruta. Acredito também que o facto de ter mamado até aos 25 meses - altura em que ele próprio decidiu parar - deu umas boas reservas ao seu sistema imunitário. Haverá sem dúvida outros factores que não são de ignorar como, por exemplo, até os aspectos emocionais e a genética, se bem que, neste caso, a história familiar nem é totalmente favorável. </span></div>
<div style="background-color: white; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b style="line-height: 16.0799999237061px;">Acredito que é verdade o que diz o Dr. Shynia, que nos habituamos a viver com a doença e nos esquecemos que, quando estamos demasiadas vezes doentes alguma coisa não está certa. </b><span style="line-height: 16.0799999237061px;"> Na verdade a única altura em que o meu filho teve realmente uma saúde mais frágil foi quando começou a comer papas com leite (já contei </span><a href="http://familiavegan.blogspot.pt/search/label/Como%20tudo%20come%C3%A7ou" style="line-height: 16.0799999237061px;">aqui</a><span style="line-height: 16.0799999237061px;">). Foi nessa altura que esteve um período de tempo sem crescer e que teve um peso tão baixo que já nem entrava nas tabelas de percentis. Quando olho para as fotografias dessa altura, vejo que ele realmente tinha um ar frágil. Também foi nessa altura que apanhou a única gastroenterite viral da vida dele e que teve também uns três ou quatro dias com uma urticária enorme em todo o corpo. Depois de decidirmos cortar com todos os lacticínios, foram precisos apenas seis meses para passar para o percentil cinquenta de altura e 25 de peso. Hoje em dia tem uma altura acima da média: estava no percentil 75 há uns meses e no 50 de peso. E até a pediatra, que não era muito a favor de uma alimentação estritamente vegetariana (apesar de sempre nos ter apoiado no não comer carne nem peixe), na primeira consulta depois dessa mudança, comentou que ele estava realmente com uma cor muito mais saudável. </span></span></div>
<div style="background-color: white; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; line-height: 16.0799999237061px;"><b>Então se o estar saudável é realmente natural, é importante percebermos que não é normal que as nossas crianças estejam repetidamente doentes e que, quando isto acontece, alguma coisa deve estar errada e acredito que o excesso de lacticínios, carne e açúcar que se consomem hoje em dia têm uma boa parte da responsabilidade nestes casos. </b></span></div>
<div style="background-color: white; line-height: 16.0799999237061px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Mas, enquanto pensava em escrever este artigo tomei consciência de que, existe também um outro lado desta questão: o lado que sente que ainda precisa de provar às outras pessoas que a nossa opção está certa, como se a saúde do meu filho fosse uma espécie de prova de que o veganismo é realmente uma opção saudável. A verdade é que para muitas pessoas essa dúvida ainda existe. <b>Se já vai sendo relativamente fácil começar-se a aceitar que os adultos podem viver bem e com saúde sem nenhum produto de origem animal, quando falamos de crianças, existem ainda muitas pessoas que pensam que os produtos animais são imprescindíveis para o seu crescimento. </b>Já ouvi todo o tipo de coisas absurdas em relação ao meu filho e todo o tipo de comentários que espelham também uma preocupação genuína. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
Então o facto de haver crianças que crescem e se desenvolvem com tanta saúde numa dieta vegan serve para comprovar de que afinal é possível vivermos sem carne, é possível vivemos sem explorar animais e, mais importante ainda, é possível viver com saúde sem consumir nenhum produto de origem animal. Afinal o meu filho, como outras crianças vegans que conheço pessoalmente e virtualmente (o mundo das redes sociais tem destas coisas) são mesmo a prova de que é possível viver bem, com saúde, sem nenhum produto de origem animal. Mas, acontece que o veganismo não é nenhuma receita infalível para não se ficar doente, não é nenhuma garantia de que vamos ter saúde eterna e, apesar de poder contribuir para melhorar muitas condições, não é nenhum medicamento infalível para curar tudo o que nos aparece. </span></div>
<div style="background-color: white; line-height: 16.0799999237061px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E as crianças vegans, tal como as outras, por vezes também ficam doentes. <b>Acontece que, quando uma criança vegan fica doente, geralmente o dedo é imediatamente apontado ao veganismo</b>. Quando o meu filho parou de crescer estava cada vez mais magrinho, por causa do leite, não faltou quem pusesse em causa o facto de não comer carne. Houve mesmo pessoas que me chegaram a dizer que, se experimentasse dar-lhe carne um mês ou dois ia ver logo a diferença!<span style="line-height: 16.0799999237061px;"> </span></span><br />
<div style="line-height: 16.0799999237061px;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="line-height: 16.0799999237061px;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E também não faltaram pessoas a duvidar da qualidade do meu leite - que claro, sendo vegetariana há tantos anos, devia ter falta de vários nutrientes essenciais - e a sugerirem que o leite de vaca, na forma de suplemento, iria fazer milagres. </span></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
A verdade é que existe toda uma construção social que nos leva a acreditar que a carne, o leite e os ovos são mesmo essenciais se não para os adultos, pelo menos, para as crianças. E noto que ainda existem muitas pessoas que ficam mesmo espantadas de saber que o meu filho cresce e se desenvolve tão bem sem precisar de nada disso<b>. Então cada vez que alguma criança vegan ou vegetariana fica doente é como se as pessoas usassem esse facto para dar vida aos seus fantasmas, aos seus receios, às suas crenças.</b> E a verdade é que estas crenças estão ainda muito enraizadas. <b>A verdade é que vivemos numa sociedade onde comer carne e leite ainda são vistos como sendo fundamentais para a saúde. E a verdade é que estas crianças põem isso em causa.</b> E, para muitas pessoas, isso incomoda. Incomoda tanto que ficam à espera de ver aparecer a primeira falha, o primeiro sinal de que aquelas crianças não podem estar a crescer bem, não podem ser saudáveis. E é como se uma parte delas ficasse quase de vigia, à espera de poder dizer: <i>eu bem te avisei, eu sabia que isto ia acontecer</i>, ao primeiro problema que surgir.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOa6ZmhYsD8OY5MLU-pB_zVJYm2RzU7B5ktfopXH2ZEv3O41kRR1pMjoRPkOUyYEpKh154BXye9I5FucDfQ83VgZFGtnt5Pq8_N5Sbd2tACaKrZiiBc4OblUqcCRXgcOoTJUDFGbCgmro/s1600/P1030636.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOa6ZmhYsD8OY5MLU-pB_zVJYm2RzU7B5ktfopXH2ZEv3O41kRR1pMjoRPkOUyYEpKh154BXye9I5FucDfQ83VgZFGtnt5Pq8_N5Sbd2tACaKrZiiBc4OblUqcCRXgcOoTJUDFGbCgmro/s320/P1030636.JPG" width="240" /></span></a><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Porque se esses problemas não surgirem elas perdem a justificação para todo o seu comportamento. Porque se uma criança pode crescer tão saudável sem produtos animais então como é que podemos afirmar que eles fazem falta, que são precisos e que a indústria animal é um mal necessário para a sobrevivência da espécie humana? <b>Se uma criança vegan cresce e se desenvolve com toda a saúde a que tem direito como é que podemos continuar a dizer que os produtos animais nos fazem falta? Que o homem nasceu para comer carne? Que o leite é essencial para os ossos?</b> <b>E, se essas coisas afinal não fazem falta, então como é que podemos continuar a justificar os maus tratos de que somos cúmplices diariamente quando pomos um bife ou um iogurte na mesa dos nossos filhos que, afinal, até parece que podiam crescer bem sem eles?</b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
Se a carne e o leite afinal não são indispensáveis é apenas uma questão de comodismo, de egoísmo e de incapacidade para agir de acordo com o que sabemos que é certo e não é fácil aceitar isso. A verdade às vezes dói. <b>E uma criança que cresce saudável contra tudo aquilo em que acreditávamos e defendíamos é como uma agressão diária ao nosso comodismo, ao nosso egoísmo, à nossa incapacidade de lutar por um mundo melhor e mais justo. </b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><br /></b>
Resta-nos a alternativa de pensar que os animais não sofrem assim tanto, que até podem nem ser muito mal tratados. Mas até os cientistas já vieram dizer que isso é mentira, que os animais têm consciência e sentimentos, sim. E qualquer pessoa que tenha vivido com um cão ou um gato sabe que isto é verdade. E os cães e os gatos não são diferentes das vacas, dos porcos e das galinhas.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
E as redes sociais também já não permitem que ignoremos os maus tratos a que todos eles estão sujeitos diariamente, por causa do nosso comodismo, do nosso egoísmo, da nossa incapacidade de agir e de tomar posições.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
Então fico muito contente que o meu filho tenha orgulho em ser vegan e que fico muito contente que seja um exemplo de como se pode viver de acordo com os valores de respeito e de não agressão e ser-se bastante saudável. E fiquei muito contente quando, há poucos dias, uma auxiliar nova da escola dele me contou que, um dia ele foi ter com ela e lhe disse: <i>Olá, eu sou vegan. E tu? O que é que comes?</i> Porque fico muito contente que ele tenha orgulho de viver de acordo com os seus valores, que não sinta que precisa de o ocultar ou esconder apenas porque os outros ainda podem ter alguma dificuldade em compreender ou aceitar. </span></div>
<div style="background-color: white; line-height: 16.0799999237061px; margin-bottom: 1em; margin-top: 1em; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
</div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8429157455576509288.post-15623001242462809872015-04-29T04:09:00.001-07:002015-11-09T05:13:08.363-08:00Liberdade e coração <div style="text-align: justify;">
Hoje vi o vídeo de um conhecido apresentador de televisão a entrevistar uma convidada, no seu programa, que iria falar sobre alimentação vegetariana. Infelizmente não lhe foi possível falar muito porque foi constantemente interrompida com observações e comentários mesmo que nem sempre viessem muito a propósito. Fico feliz quando vejo que alguém consegue ter uma discussão válida e aberta sobre vegetarianismo ou sobre veganismo e ainda mais quando há uma possibilidade de que essa discussão chegue a muitas pessoas através da televisão. Mas, embora não tenha sido de todo isto que se passou neste caso, este programa deixou-me a pensar em algumas questões importantes.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Por um lado a primeira coisa em que pensei foi no discurso de muitas pessoas, discurso que eu própria já usei algumas vezes, de que cada um tem o direito de fazer as suas opções e de comer o que bem entender.</b> É verdade que não posso obrigar ninguém a parar de comer animais e os seus derivados mas também é verdade que me sinto com cada vez menos tolerância para a questão das opções e das liberdades individuais de cada um, aplicadas a este caso.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://timon.blogs.sapo.pt/arquivo/animais.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://timon.blogs.sapo.pt/arquivo/animais.jpg" height="185" width="320" /></a></div>
Na verdade, desde que o meu filho nasceu que isto sempre foi algo que me foi apontado: o facto de, para muitas pessoas, as minhas escolhas estarem, supostamente a interferir com a liberdade dele. Claro que isso não faz sentido nenhum, uma vez que ninguém dá às crianças assim tanta liberdade ao ponto de as deixar escolher sempre aquilo que querem comer, ou fazer ou até vestir. Mas, independentemente desse argumento de que todos nós fazemos alguma questão de que os nossos filhos herdem e mantenham os nossos valores, <b>a verdade é que comer ou vestir animais não são uma escolha e uma opção individual como tanto nos querem fazer querer. </b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se eu escolher encher-me de pão ou de açúcar ou de alcoól ou drogas, aí é uma escolha minha, sim. E, mesmo assim nem sempre, porque a sociedade também não permite consumir livremente heroína ou cocaína e os menores, hoje em dia, também não podem comprar álcool. Mas, na verdade, estas escolhas só afectam realmente quem as faz. Podem influenciar de forma mais indirecta as pessoas que lhes estão próximas, é claro e o mal que algumas coisas fazem à saúde também acaba por ter algum peso no sistema de saúde que, sendo público, acaba também por ser pago por nós. Mas, de forma directa, estas opções só afectam mesmo quem as faz.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mas comer animais não afecta apenas quem os come. Para eu ter o direito de comer um animal, há um ser, ou vários, que precisam de morrer</b>. E antes de morrer precisam de toda uma vida de sofrimento e escravidão. <b>Então como é que isto pode ser considerado apenas uma opção individual?!</b> <b>Não há nada de individual aqui</b>. Além de que, está mais do que demonstrado, que o consumo de alimentos de origem animal está a destruir o planeta e a ter consequências devastadoras, o que significa também que, cada vez que comemos um bife estamos a dar uma forte contribuição para que se esgotem todos os recursos do planeta e para que o mundo que os nossos filhos poderiam herdar passe a ter sérias possibilidades de deixar de existir. Então, gastar milhares de litros de água para comer um simples hambúrguer num planeta onde a água é um recurso cada vez mais escasso e onde tantas pessoa não têm o que comer porque gastam os seus recursos a alimentar gado que, depois é exportado para países mais ricos, também não será propriamente uma opção individual já que prejudica e coloca mesmo a vida de tantas outras pessoas em risco.<b> </b><br />
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Por isso acho que é importante termos coragem de parar com este discurso politicamente correcto de que são apenas opções e precisam de ser respeitadas como tal.</b> Porque já diz o ditado a minha liberdade acaba onde começa a liberdade do outro e os animais têm todo o direito de começar a ter também alguma liberdade. Já que até a ciência os passou a reconhecer como seres conscientes e merecedores de todo o respeito como o próprio título deste artigo demonstra:<a href="http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/nao-e-mais-possivel-dizer-que-nao-sabiamos-diz-philip-low"> Não é mais possível dizer que não sabíamos</a><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Outra coisa que me deixou a pensar neste programa foi a distância que ainda existe entre o coração e a cabeça de algumas pessoas.</b> A certa altura o apresentador do programa dizia que sabe ser uma crueldade comer lagostas vivas mas que elas sabem tão bem que não resiste a fazê-lo. Realmente ninguém, no seu juízo perfeito, poderá negar que a indústria de produtos animais é cruel e desumana. Mas a verdade é que, para muitas pessoas, isso não é suficientemente importante quando comparado com o prazer que sentem ao comer esses animais. Isto significa que, racionalmente, as pessoas até sabem que é cruel e racionalmente, hoje em dia, também se torna cada vez mais fácil demonstrar que podemos viver com muito mais saúde se não consumirmos produtos animais.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas o problema é que o racional só não chega. Não é suficiente percebermos algo do ponto de vista intelectual, é preciso senti-lo também. O argumento da saúde é um dos que leva muitas pessoas a deixarem de comer carne, por exemplo e esta é uma decisão racional já que tudo indica que o excesso de carne nas dietas ocidentais é responsável por várias doenças, desde o cancro aos acidentes cardiovasculares. Conheço algumas pessoas que me dizem que comem cada vez menos carne e outras que me contam que já deixaram de beber leite, porque também perceberam o mal que faz à saúde. Mas estas pessoas quase nunca cortam a 100% com estes produtos, porque foi uma decisão racional e e, na verdade, se é apenas uma questão de saúde, comer carne ou queijo uma vez de x em x meses, não irá ter grande peso. Mas, quando se trata de uma questão de valores, cada vida é importante e não passa pela cabeça de ninguém dizer que vai dar um tiro em alguém só de vez em quando, ou que se bater em alguém só de vez em quando isso não fará muito mal.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Então, o que é importante é perceber porque é que é tão difícil fazermos esta ligação do racional com o coração. </b><br />
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
Jonathan Haidt, psicólogo americano, dedicou-se a estudar a área da psicologia moral e, este autor, defende que as nossas escolhas começam sempre nas emoções e, só depois, encontramos uma explicação racional para justificar o que escolhemos. Então é mesmo importante estarmos mais ligados às emoções e sobretudo permitirmos-nos sentir as consequências das nossas escolhas e opções. Ele explica que é possível ver que é no hemisfério direito - que está mais associado às emoções - que as decisões são tomadas, em primeiro lugar. Só depois da decisão estar tomada, algo que acontece de forma rápida e quase inconsciente, é que o hemisfério esquerdo - responsável pelo pensamento mais racional e analítico - entra em funcionamento tentando justificar a escolha que foi feita e procurando razões para o facto dela existir.<br />
<br />
Por isso este autor explica que quando queremos que alguém mude a sua ideologia ou a sua posição em relação a um determinado tema não adianta muito usar argumentos racionais. Porque o mais importante é sermos capazes de falar com o hemisfério direito da pessoa, ou seja, com a parte mais ligada às emoções e, mais do que isso, sermos capazes de comunicar com o seu inconsciente. Já que é aqui que as decisões são verdadeiramente tomadas.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<b>Acredito que é por isto que muitas pessoas que comem animais, como aconteceu neste programa, sentem necessidade de denegrir ou de atacar alguém que já deixou de o fazer: porque, em alguma parte de si, sabem que este comportamento é errado, que não está de acordo com as suas emoções. </b>Em alguma parte de si, estas pessoas, sentem a incongruência de saberem que as suas emoções não estão de acordo com a razão. E isso torna-as mais agressivas até, por vontade de se dissociarem dessa sensação desconfortável. E, muitas vezes isto faz-se através de um mecanismo que, em psicologia se chama projecção: acreditar que é no outro que está a fonte de desconforto quando, na realidade, ela está mesmo dentro de si. Por isso quando alguém está a fazer troça de um vegan ou está simplesmente a atacar as suas posições, na verdade, o que essa pessoa está mesmo a mostrar é que se sente muito desconfortável consigo própria e com as incongruências que ainda não sabe como resolver.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Porque acredito que a grande maioria das pessoas sabe distinguir o certo do errado, a grande maioria das pessoas não seria capaz de viver com a consciência dos maus tratos e dureza que fazem parte da indústria animal e continuar a consumir esses produtos como se nada fosse.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas também acredito que a maioria das pessoas ainda não sabe como dar voz a essas emoções. Porque sempre que elas tentam espreitar surgem os medos, os medos de acreditar em algo diferente de tudo que defendíamos, o medo de por em causa tudo aquilo que tínhamos como certezas, os medos de fazer algo diferente do que fazem todos os outros, do que sempre fizeram os nossos pais, os medos de termos que abdicar do prazer, de ter trabalho, de não saber o que fazer, de não conhecer alternativas, o medo de ser diferente. Até o medo de se escutarem a si próprias, se seguirem o seu coração e as suas emoções. E estes medos podem ser tão fortes que paralisam e impedem a pessoa de fazer uma verdadeira escuta interior.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Desde que o meu filho nasceu que me apercebo ainda mais de como o medo de se ser diferente está tão enraizado. </b>Quando era mais pequeno o medo das pessoas era o de como seria quando ele fosse para a escola, como seria quando percebesse que era o único vegan, como seria quando os amigos percebessem que ele comia coisas diferentes. E acredito que este medo de ser diferente contribui muito para que muitas pessoas tenham medo de se escutar, de ouvir o seu coração e a sua consciência.<br />
<br />
Porque não acredito que nenhum coração, que nenhuma consciência goste de ver o sangue na sua mesa e nos pratos diariamente.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A verdade é que, como Melanie Joy, explica tão bem, o sistema do carnismo está feito de forma a que as pessoas não precisem de ouvir a sua coração ou a sua consciência porque, na verdade, todo o sofrimento animal fica escondido e não precisamos de o enfrentar verdadeiramente quando vamos ao supermercado buscar um bife ou um pacote de leite.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://advocacy.britannica.com/blog/advocacy/wp-content/uploads/melanie-joy-2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://advocacy.britannica.com/blog/advocacy/wp-content/uploads/melanie-joy-2.jpg" height="320" width="207" /></a>Mas as redes sociais e a internet têm ajudado a tornar esse sofrimento cada vez mais real e mais presente. E, a partir do momento em que somos capazes de fazer essa ligação entre o sangue e o sofrimento que estão por trás de um simples pacote de leite do supermercado nunca mais conseguimos esquecê-la.<br />
<br />
Muitas das pessoas que se tornaram veganas fizeram-no através de um processo de sofrimento, porque foi preciso ouvirem essa voz dentro delas, foi preciso deixarem o coração falar e, ao entrarem em contacto com essas emoções ficaram também vulneráveis a todo o sofrimento que existe no mundo do consumo animal e a todo o sofrimento que, inconscientemente, também provocaram durante anos. Este não é um processo fácil, porque implica sermos capazes de lidar com essa culpa de saber que também nós fomos cúmplices disso durante tantos anos e sermos capazes também de lidar com essa nova realidade. Implica sermos capazes de olhar para um bife, para um pacote de leite e não vermos só a embalagem mas todo o sofrimento que a tornou possível. E dói tomar contacto com essa realidade. Mas é da vulnerabilidade que vem também a força. A força de nos sentirmos, finalmente, em coerência com os nossos valores. A força de nos sabermos capazes de defender os nossos ideais e também a responsabilidade de saber que não podemos ignorar esse sofrimento. A responsabilidade de saber que, a partir do momento em que tomamos conhecimento dessa realidade, não podemos voltar atrás e não podemos continuar de braços cruzados como se nada se passasse. Por isso é que tantos vegans se tornam também activistas, por sentirem que precisam de dar o seu contributo para acabar com o sofrimento animal, por sentirem que não podem continuar a ser cúmplices passivos desse sofrimento.<br />
<br />
Não é porque somos ditadores e queremos que todos pensem como nós. <b>É apenas porque gostávamos muito que todos pudéssemos viver num mundo melhor. Eu gostava que o meu filho pudesse viver num mundo onde não se torturassem touros por prazer, onde não se gostasse do sabor do sangue e da morte. Onde as pessoas não se achassem superiores a todos os outros seres e se sentissem no direito de matar e torturar em nome do prazer ou das suas comodidades</b>. Gostava que o meu filho crescesse num mundo onde as pessoas se preocupassem com o planeta, com os seus recursos porque isso também significa preocuparmos-nos com os animais e com as outras pessoas. Acredito que se fôssemos capazes de viver em paz com os animais, se fossemos capazes de parar de os torturar em nome do nosso comodismo e de os reconhecer como seres dignos e merecedores de respeito e consideração, também seríamos capazes de viver muito melhor com as outras pessoas. Porque perceberíamos finalmente que todos somos habitantes desta terra e que todos temos o direito de estar vivos e de não ser mal tratados, atacados ou abusados. Porque só quando percebermos que uma pessoa não vale mais que um cão e que um cão não vale mais que uma vaca, que uma galinha ou um porco é que poderemos estar prontos para viver verdadeiramente em harmonia com o que nos rodeia.<br />
<br />
<b>E não acredito que tenhamos a opção de escolher comer ou vestir animais apenas porque queremos acreditar numa falsa liberdade.</b> <b>Assim como a guerra não é uma escolha individual, assim como eu não tenho o direito de escolher matar, torturar ou violar outro ser humano apenas porque me apeteceu, me deu jeito ou me fazia falta, também não o tenho direito de o fazer com os animais.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8429157455576509288.post-26713872241633197962015-03-23T05:35:00.002-07:002015-03-23T05:35:59.238-07:00Educar para os verdadeiros direitos dos animais<div class="MsoNormal">
Ontem em conversa com o meu filho de três anos e meio ele
falou-me de ovos já não me lembro porquê. Eu disse que não os comíamos e ele respondeu: se os ovos
fosse vegans nós já os podíamos comer.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Este frase deixou-me a pensar numa questão que já não é nova
para mim mas que me deixa sempre algumas dúvidas: <b>quando é a altura certa para
explicar todas as implicações dos produtos animais a uma criança?</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><a href="http://www.demilked.com/magazine/wp-content/uploads/2014/03/children-animals-photography-jake-olson-6.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://www.demilked.com/magazine/wp-content/uploads/2014/03/children-animals-photography-jake-olson-6.jpg" height="223" width="320" /></a></b></div>
<b> </b><o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Para ele, alguma coisa ser ou não vegan, não tem o mesmo significado
que para nós, como é óbvio. Ele compreende e aceita perfeitamente que nós só
comemos comida que seja vegan mas não percebe o que está por trás dessa escolha e fico
sempre na dúvida até que ponto lho devo explicar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Para ele, ser vegan faz parte da
identidade da família e é algo que ele percebe que está relacionado com a
alimentação mas, na verdade, ele ainda não sabe exactamente o que distingue uma
comida vegan de uma não vegan. ~</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Uma criança desta idade precisa de se identificar sobretudo com a família, por isso, por enquanto, para ele é bastante pacifico que
nós façamos algumas escolhas diferentes das dos outros e isso chega bem para que
nunca tenhamos tido problemas em lado nenhum quando alguém come produtos
animais à frente dele, mesmo que sejam gelados ou doces de chocolate, coisas de
que gosta bastante. Basta dizermos que não é vegan e ele aceita perfeitamente
porque, para uma criança desta idade, se tudo estiver bem, é fácil
identificar-se totalmente com as escolhas da família e confiar nos pais. Na
verdade é muito mais fácil neste caso do que se houvesse alguma alergia, por
exemplo - a algum produto que ele não pudesse comer e nós continuássemos a consumir - porque é uma escolha da família, ele sente que isso faz parte da nossa
identidade e está completamente confortável com isso.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas, isto não significa que ele saiba exactamente o que
está por trás do conceito de veganismo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Neste caso, senti que lhe devia
explicar um pouco mais e optei por lhe explicar apenas que ser vegan implica
que não comemos nada que venha dos animais e os ovos vêm sempre. Assim, como já
lhe expliquei que as vacas têm leite, sim, mas que esse leite é só para os
filhotes delas e não temos o direito de o tirar. <b>Com estas explicações acho
que lhe transmito o que para mim é o mais importante: que não temos o direito de comer o que
quer que seja que venha dos animais porque eles não existem para a nossa
conveniência. </b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Acho que, por vezes, podemos cair no erro
de falar cedo demais às crianças no sofrimento que implicam as escolhas do
consumo de produtos animais. </b>E pergunto-me se é justo sobrecarregá-las com esse
peso e se isso não acabará por ter o efeito contrário daquele que desejamos. Se sobrecarregamos uma criança com esta responsabilidade de conhecer todo o sofrimento que implica a indústria dos produtos animais antes dela ter alguma capacidade de lidar com isso, pode acontecer justamente o contrário do que queríamos que acontecesse: se aquilo é um peso grande demais para a criança carregar, se ela fica preocupada e impressionada com algo que, sendo tão pequena, não tem capacidade de mudar, então a sua única forma de lidar com isso poderá ser mesmo a de bloquear essas emoções, o que significa ignorar tudo o que estiver associado a elas e ficar como que dessensibilizada para esse mesmo sofrimento. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />Qualquer adulto que tenha tomado consciência do que está por trás da indústria animal e que tenha tomado a decisão de deixar de contribuir para isto sabe que não foi um processo fácil, tomar contacto com essa realidade. A incapacidade de lidar com essa realidade e de aceitar que ela existe é justamente uma das coisas que faz com que muitas pessoas reajam mal sempre que alguém as confronta com essa mesma realidade. É um processo que pode ser doloroso e até traumatizante. Então pergunto-me muitas vezes quando será o momento certo para permitir que o meu filho tome contacto com isto? E a resposta que me tem surgido sempre é que preciso de o deixar crescer mais para que isso aconteça porque quero que ele tenha o direito de continuar a ser criança.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As crianças
que comem carne não têm nenhuma noção do sofrimento dos animais que lhes aparecem no prato, a maior
parte das vezes nem chegam a fazer a ligação entre os animais que conhecem e
aquilo que comem. Então se as crianças que comem carne não carregam esse
peso, acho que as outras também não precisam de o carregar, pelo menos nos seus primeiros anos de vida, e enquanto não houver nenhuma razão para o fazerem. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Acredito que o sofrimento do
mundo deve ser deixado para os adultos porque são estes que têm capacidade de lidar com isso também a responsabilidade de o eliminar.</b> As crianças devem continuar
crianças, não acho que tenhamos de lhes esconder tudo, mas também não acredito
que lhes devamos contar exactamente como tudo se passa, da mesma forma que não
as protegemos de outras realidades terríveis como as guerras ou coisas do
género. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Claro que, se algum dia ele insistir em comer algum produto de origem animal terei que tentar explicar-lhe, sempre de forma adaptada à sua idade, o que isso implica e o que estará por trás disso. Mas espero não ter de o fazer cedo demais e espero saber fazê-lo quando for a altura certa. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Outra coisa que pode acontecer quando explicamos a crianças pequenas o que implica o consumo dos produtos animais é que elas podem ficar a pensar que, nesse caso, então todas as pessoas que os consomem são más</b> o que, no meu caso e na maior parte dos casos, incluiria pessoas da família e de quem ele gosta bastante. Porque uma criança não tem a mesma capacidade que os adultos de perceber que o mundo não é só preto e branco. Uma criança não consegue perceber que o facto de uma pessoa ser cúmplice e contribuir para algo que está errado não a torna necessariamente má, porque existe toda uma franja de cinzento nas emoções humanas que, até para nós adultos, nem sempre é fácil de entender. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Por outro lado, as crianças mais pequenas
também ainda não têm uma verdadeira capacidade de entender esse sofrimento,
ainda não percebem verdadeiramente o que é a morte nem o que isso implica e, quando são muito pequenas nem têm grande capacidade de sentir empatia. <b>Por
isso penso que a melhor coisa que posso fazer, para já, é simplesmente transmitir-lhe os valores de respeito pela vida dos animais e fazê-lo perceber que eles têm direito à sua própria existência e que não há nada que nos dê a nós o direito de usar o que quer que seja que venha de algum animal. </b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTdSK1e7-gk-Zf9flpPjF_zjLz67G7Q6YqWNQNDh1SLNAdL9dVT" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTdSK1e7-gk-Zf9flpPjF_zjLz67G7Q6YqWNQNDh1SLNAdL9dVT" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na verdade isto prende-se com uma
discussão que surge até muitas vezes em grupos de vegans e de vegetarianos: <b>se
eu tiver galinhas e as tratar bem posso comer os ovos delas?</b> E para mim é muito
simples e é isso que eu quero que o meu filho aprenda antes de tudo o mais:
<b>mesmo que não haja nenhum sofrimento envolvido é errado pensar que temos o
direito de usar o que quer que seja que venha de um animal.</b> Primeiro porque,
hoje em dia e com tudo o que temos ao nosso dispor não precisamos de nenhum
produto animal para absolutamente nada. E, se não precisamos então é apenas uma
questão de conveniência, de hábito, de preguiça até em procurar alternativas ou
de incapacidade para deixar algo que nos dá algum prazer e não acho que estas sejam justificações suficientes. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Sempre que aproveitamos algo
que vem de um animal, como o ovo de uma galinha, aquilo que estamos a fazer
é a partir do princípio que aquele
animal é um ser inferior e que temos o direito de nos sentir donos dele, já que
até lhe damos casa e comida e festinhas de vez em quando e, por isso, temos
também o direito de aproveitar o que quisermos quando quisermos</b>. E isto não
quer dizer que somos pessoas com menos princípios ou más ou que tratamos mal os
animais mas quer dizer que não lhes damos os mesmos direitos que damos às outras
pessoas, quer dizer que não os vemos da mesma forma e, para mim, isso é não é
certo e é justamente o que está na base de tudo o resto que acontece de mal. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Muitas pessoas que têm animais e
até os tratam bem ficam ofendidas quando as comparamos aos donos de escravos</b>.
Mas sempre que oiço isto não consigo deixar de me lembrar da cabana do Pai
Tomás, um livro que retrata muito bem a escravatura. Neste livro, o personagem
principal, o Pai Tomás era um escravo que vivia com um dono bom, que o tratava
muito melhor do que aquilo que era costume, lhe dava uma casa boa, boas roupas,
boas condições de trabalho, etc. Nessa casa os donos gostavam dos escravo e os escravos gostavam dos donos, sentiam-nos quase como parte da família e seriam incapazes de os
maltratar ou fazer algo que os fizesse sofrer. Até que um dia o senhor fica na
falência e perante a alternativa de vender o Pai Tomás que, justamente por ter
sido sempre tão bem tratado, era o seu escravo mais valioso porque era
saudável, forte, bem educado, inteligente, sendo capaz até de ler e
escrever coisa rara para um escravo ou de ter que vender quase todos os outros
para se poder sustentar. Claro que, entre escolher o mal de todos ou o mal de
um, foi o Pai Tomás que foi vendido e foi afastado da sua casa, da sua família
e de tudo o que conhecia até então para dar início a toda uma outra vida de sofrimentos e maus-tratos. Aqui o que importa perceber é que estes
donos nunca fizeram isto de ânimo leve, não eram más pessoas, gostavam genuinamente dos escravos e foi uma decisão
penosa e muito difícil de tomar. Aliás o que eles sentiram foi que era uma decisão necessária justamente para salvar os outros todos. A verdade é que, por muito que gostassem dos seus escravos, estes donos, no fundo, viam-nos exactamente como todas as outras pessoas dessa época: como seres inferiores que, apesar de todo o amor e afecto que tinham por eles, não tinham exactamente os mesmos direitos que os brancos. Não porque os achassem maus ou indignos, simplesmente, porque os achavam diferentes, por muito absurdo que hoje nos pareça, nesta altura, as pessoas acreditavam que os escravos eram mesmo diferentes, que tinham outra consciência que os colocava num estatuto inferior ao dos brancos. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Então a única forma de acabar
como isto foi fazer as pessoas perceberem que os escravos eram iguaizinhos a
elas e que tinham de ter exactamente os mesmos direitos. Só quando isto foi aceite - o que não aconteceu de um dia para o outro, é claro - é que as coisas puderam mudar de verdade. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E é isto que eu
acredito que precisamos de fazer com os animais: perceber que, mesmo que sejam
diferentes de nós, têm de ter os mesmos direitos e privilégios e isso implica
não usarmos nada que venha deles porque, enquanto o fizermos, estará sempre presente a visão utilitária que nos diz que temos o direito de usar alguns produtos animais. Acontece que, a partir do momento em que nos sentimos no direito de usar o que quer que seja que venha de um animal apenas para a nossa conveniência, então é uma linha muito ténue que fica traçada entre a nossa capacidade de reconhecermos a individualidade e os direitos daquele animal e o sentir que podemos dispor dele à nossa vontade. </div>
<o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuxCLXse2X6Qew3A7NBQ4V-rQ4WZExLho5NrnzTYdiXE6bun5i6E_lsjvP1v_C9D0zEQ-yE7Uy5mbbrhUE5vyHoIxrwxE6zclU1XyviHUXrynmOPV-DEYzTAUNAS1_Sep3KFtuse9g0Cw/s1600/Evolve+kids.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuxCLXse2X6Qew3A7NBQ4V-rQ4WZExLho5NrnzTYdiXE6bun5i6E_lsjvP1v_C9D0zEQ-yE7Uy5mbbrhUE5vyHoIxrwxE6zclU1XyviHUXrynmOPV-DEYzTAUNAS1_Sep3KFtuse9g0Cw/s1600/Evolve+kids.jpg" height="135" width="200" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>E, mais do que qualquer outra
coisa é mesmo isto que quero transmitir ao meu filho: que os animais podem ser diferentes de nós em algumas coisas, mas que têm de ser iguais nos direitos e que essa diferença não nos dá o direito de acreditar que podemos usá-los ou aproveitar o que sai dos seus corpos para o que quer que seja, mesmo que isso não implique violência ou maus tratos. </b><o:p></o:p></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8429157455576509288.post-88148948667419257402015-02-06T04:14:00.000-08:002015-02-06T04:17:31.305-08:00Aprender com empatia <div style="text-align: justify;">
Recentemente soube que os alunos do segundo e terceiro ciclo andam a mexer, nas aulas, em cadáveres de peixe e corações de porco. E acabei de saber também que, na escola do meu filho - de que gosto bastante - as crianças do quarto ano andaram a mexer nas entranhas de um animal que, segundo me disseram, deveria ser um porco.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sou a favor de um ensino mais activo, em que as crianças possam mexer e sentir e em que não tenham de aprender só com os livros mas a questão é que isso precisa de ter limites. Principalmente quando falamos de crianças. Se, numa faculdade de medicina ou veterinária, os alunos têm obrigatoriamente de ver e de mexer em cadáveres para treinar determinadas aptidões, isso não é propriamente o caso de um adolescente e muito menos será o caso de uma criança do quarto ano.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://encrypted-tbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcThA6FYLeNv9OUBxkjs81vaNimDgo44R8j_ELc0zyoE26fYZVcq" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://encrypted-tbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcThA6FYLeNv9OUBxkjs81vaNimDgo44R8j_ELc0zyoE26fYZVcq" /></a></div>
<b>Quando se leva o cadáver de um animal para dentro de uma sala de aula, com crianças que não estão propriamente a estudar medicina ou veterinária, que mensagem é que estamos a transmitir a essas crianças ou jovens?</b><br />
Que a vida daquele animal vale tão pouco que até pode ser usado apenas para exemplificar coisas que podiam perfeitamente ser aprendidas com recurso a algum tipo de modelo de plástico, livros, filmes, etc.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E é claro que é sempre muito mais motivador e gratificante para as crianças aprenderem com o mundo real, quando podem fazê-lo, em vez dos livros. Mas isto não pode ser válido para tudo. Não vamos ensinar a um jovem o que é uma guerra, ou o que foram os campos de concentração, por exemplo, fazendo-o passar por essas experiências.<br />
<br />
<b>O que é que implica levar o corpo de um animal morto para dentro de uma sala de aula em que se está apenas a estudar anatomia?</b><br />
<br />
Em primeiro lugar há todo o desrespeito para com o animal morto que está assim a ser usado e manipulado numa sala de aula. Depois a mensagem de que a vida daquele animal não tem qualquer valor e a sua morte não merece o mínimo de dignidade.<br />
<br />
Algumas pessoas dirão que o corpo do bicho já estava no talho e que, de qualquer modo, seria comprado e comido. Mas, apesar de tudo, é um acto diferente comprar um animal para comer quando acreditamos que precisamos disso para sobreviver ou usá-lo assim, numa sala de aula, apenas para que os alunos possam aprender de maneira diferente.<br />
<br />
Nesse caso poderíamos dizer que nos hospitais também haverá muitos cadáveres de pessoas que, de qualquer maneira já estariam mortas, mas ninguém se atreveria a levar um cadáver de uma pessoa para uma sala de aula do quarto ano ou mesmo do ensino secundário. E porquê? Porque sentimos que as pessoas nos merecem mais respeito que os bichos, mesmo depois de mortas.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mas para além destas questões éticas fundamentais e da falta de dignidade com que tratamos os animais há que pensar também no efeito que isso terá nas crianças.</b><br />
<br />
Por um lado, há aqui a questão do respeito pela sensibilidade de cada um. Que não tem de ser toda igual. Nem todas as crianças, ou adultos, têm a mesma sensibilidade. E não têm de ter. E ainda bem que não têm. Nem todas a pessoas seriam capazes de ser médicas, de mexer em feridas, de abrir corpos, de lidar com sangue. Na verdade nenhum médico aprende a fazer isso assim de ânimo leve, precisa de haver algum treino que passa, de certo modo, por um certo grau de dessensibilização para essas experiências.<br />
<br />
A neurociência descobriu há pouco tempo que todos nós temos aquilo a que se chamou neurónios espelho. Esta é uma parte do nosso cérebro que parece estar desenhada para reflectir aquilo que vemos nos outros. São neurónios que disparam apenas por vermos as outras pessoas desempenharem algumas acções. Acredita-se que estes neurónios podem estar na base da empatia, que passa pela nossa capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, pela capacidade de sentir aquilo que que os outros sentem. Então estes neurónios parecem desempenhar um papel essencial para a vida em sociedade.<br />
<br />
É através da empatia que aprendermos a importar-nos com as outras pessoas. A empatia é o que nos permite criar uma ligação, estabelecer uma relação. A empatia é que nos permite querer cuidar dos outros e importarmos-nos com os seus sentimentos. Quem não sente empatia não se importa com as outras pessoas, ou animais. Quando não conseguimos sentir empatia com alguém não conseguimos importar-nos com aquilo que a outra pessoa sente. É o caso dos chamados psicopatas, pessoas cuja experiência de vida nunca os ensinou a importarem-se com os sentimentos dos outros, provavelmente porque nunca sentirem que ninguém se importasse com os seus em primeiro lugar.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É mais fácil sentir empatia quando existe algum grau de identificação com o outro. É mais fácil sentirmos empatia por pessoas com quem nos identificamos, pessoas do mesmo país, ou com a mesma profissão, da mesma idade, mesmo género, etc., porque mais facilmente conseguimos colocar-nos na sua pele.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No entanto é muito importante que sejamos capazes de alargar o nosso círculo de empatia. <b>Porque se só somos capazes de sentir empatia por aqueles que são iguais a nós, então, é meio caminho andado para criarmos exclusão e conflito.</b> E essa é uma das razões para haverem tantas guerras: o facto de acharmos que determinados povos são tão diferentes de nós que já nem conseguimos colocar-nos no lugar deles, pelo menos não o suficiente para querermos a todo o custo impedir o seu sofrimento.<br />
<br />
Por isso é que também nem sempre é fácil sentir empatia com os animais, porque nos parecem tão distantes e diferentes que temos alguma dificuldade em nos colocar no lugar deles. Principalmente quando falamos de animais que não vemos diariamente e com quem não estamos habituados a conviver. Apesar de tudo é, geralmente, mais fácil sentir empatia por um gato ou cão porque estamos habituados a conviver com estes animais e é-nos mais fácil ou mais rápido construir um mapa mental daquilo que eles estarão a pensar ou a sentir. Por isso, de certeza, que também não passaria pela cabeça de nenhum destes professores levar o cadáver de um cão ou gato para ser estudado na aula.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Por isso é tão importante percebermos que os porcos, vacas e galinhas são animais tão inteligentes e sensíveis como os cães ou os gatos. São animais que têm exactamente a mesma capacidade de sentir que os animais que temos em casa e merecem exactamente o mesmo respeito e a mesma consideração. </b><br />
<br />
Ultimamente tem-se falado, um pouco por todo o mundo, no 70º aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz, e os campos de concentração só aconteceram justamente porque foi possível que as pessoas deixassem de sentir empatia para com aqueles que lá estavam. Porque, de algum modo, se tornou possível que passassem a acreditar que elas eram tão diferentes de si que não era imediata essa tendência para se colocarem na sua pele. Este extermínio que aconteceu nos campos nazis só foi possível porque as pessoas se dessensibilizaram para o sofrimento dos outros. Os guardas destes campos não eram todos psicopatas perigosos, eram pessoas normais que o sistema e a propaganda nazi levaram a acreditar que eram diferentes dos prisioneiros desse campo. E tudo o que aconteceu nesses campos mostra como é tão perigosa essa perda de empatia. Mostra como pode ser tão grave o facto de só sermos capazes de sentir empatia por aqueles que acreditamos que são iguais a nós.<br />
<br />
Ainda há pouco tempo li algumas declarações de um sobrevivente de um desses campos que dizia que aquilo que foi feito aos judeus (e não só) nessa altura, é exactamente igual ao que se faz aos animais hoje em dia. (<a href="http://www.olharanimal.org/consumo/2685-por-que-um-sobrevivente-do-holocausto-lidera-uma-manifestacao-contra-o-abate-de-animais">ver aqui esse artigo</a>)<br />
<br />
E o que está na base disso é justamente a falta de empatia e a incapacidade de nos pormos no lugar dos animais que torturamos todos os dias neste mundo.<br />
<br />
E essa capacidade de sentir empatia significa que ficamos impressionados ao ver um corpo, uma ferida, um pedaço de animal que sabemos que precisou de sofrer para estar ali. Porque temos um mecanismo inato que nos impede de gostar de ver sangue ou corpos, ou feridas. Ninguém fica indiferente ao cadáver de uma pessoa, porque não seríamos capazes de nos dissociar tão facilmente daquilo que ela sentiria.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há quem diga que esse é um dos perigos dos jogos e filmes violentos: criar um mecanismo de dessensibilização com o sofrimento e com a violência. <b>Então, se não queremos criar filhos insensíveis, pergunto, porque raio é que lhes pomos cadáveres na mão?</b> Porque é que esperamos que eles desliguem essa capacidade de sentir empatia apenas em nome da aprendizagem?! Porque é que achamos que deverá ser natural que eles tenham de contrariar os seus instintos mais básicos para aprender?<br />
<a href="http://www.planetadeagostini.pt/uploads/fasciculos/177_hemo.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://www.planetadeagostini.pt/uploads/fasciculos/177_hemo.jpg" style="cursor: move;" /></a><br />
Existem tantas outras formas de ensinar as crianças de maneira diferente e divertida sem precisarmos que elas se desliguem deste modo dos seus sentimentos mais básicos e mais nobres que, quando penso nisto, não posso deixar de me lembrar de uns desenhos animados que havia quando eu era criança e que se chamavam Era uma Vez a Vida. Ainda hoje, quando penso em hemoglobina, me lembro sempre daqueles bonequinhos divertidos que andavam de um lado para o outro com as bolinhas de oxigénio nas costas. Para mim, que não sou médica e não preciso de conhecer bem por dentro o corpo de ninguém, esses desenhos animados serviram-me perfeitamente para compreender o funcionamento do corpo humano. E, honestamente, hoje em dia, acho bem mais simpático ter na minha cabeça a imagem desses bonecos simpáticos do que a imagem de um pobre bicho esquartejado em cima da mesa de uma sala de aula qualquer. </div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8429157455576509288.post-22273825228596113562015-01-19T07:46:00.005-08:002017-11-14T08:30:42.080-08:00Cozinhar um mundo saudável <div style="text-align: justify;">
Durante as férias de Natal tive de cozinhar em casa de familiares e, por isso, tive de dividir a cozinha com cadáveres que eram preparados ao mesmo tempo que preparávamos a nossa refeição vegan. Se já é desagradável comer com cadáveres na mesa, é ainda mais difícil ver esses pedaços de cadáver assim crus, em cima da bancada a serem manipulados por pessoas que se esquecem que aquele pedaço de carne um dia foi um ser vivo, com consciência, capaz de sentir dor e com direitos que, infelizmente, nunca foram respeitados. E, ao ver mães a preparar esses pedaços de cadáver para os filhos não pude deixar de me perguntar: como é que se pode cozinhar sangue com amor?<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjel4fy3A17QOPvwerFNkBzbNimL8DXNd_18oTx8oZWOWClsIJu-vu40_XfKYf0VHAB7rx1AVl6C1kVEVfJbJxiKwYoFg3xDu9P31vNonNfIpZLNjgby3fsclY5J9MtGiiv1CRIVOtkxOo/s1600/mae-filha-cozinhando.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjel4fy3A17QOPvwerFNkBzbNimL8DXNd_18oTx8oZWOWClsIJu-vu40_XfKYf0VHAB7rx1AVl6C1kVEVfJbJxiKwYoFg3xDu9P31vNonNfIpZLNjgby3fsclY5J9MtGiiv1CRIVOtkxOo/s1600/mae-filha-cozinhando.jpg" width="320" /></a></div>
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<b>Porque cozinhar é sempre um acto de amor. </b>A alimentação está ligada ás nossas primeiras experiências de sermos cuidados por alguém. Alimentar um filho é muito mais do que cuidar apenas do seu corpo. Quando amamentamos um bebé estamos a dar-lhe oportunidade de sentir o corpo da mãe, de ouvir os seus batimentos cardíacos, de sentir o seu cheiro e isto, para um bebé, é a experiência mais parecida que ele pode ter com estar dentro da barriga da mãe outra vez. Por isso não é de estranhar que, desde pequenos, a alimentação tenha sempre alguma ligação com o nosso lado mais afectivo e emocional. Então não é de estranhar que a comida esteja associada a tantas coisas no nosso inconsciente. E, quando uma mãe cozinha para um filho, quase sempre fá-lo como um acto de amor, de cuidado e de carinho. <b>Mas, como é que se pode ter um gesto de amor quando estamos a dar sangue, morte e violência aos nossos filhos?</b> Quando lhes pomos restos de seres vivos no prato, que foram mal tratados e abusados a sua vida inteira, seres que nunca foram olhados com o mínimo de respeito ou de afecto, seres que nasceram apenas única e exclusivamente para o proveito das pessoas que os maltrataram e desrespeitaram desde o seu primeiro instante de vida, como é que podemos por toda essa violência no prato de uma criança e achar que estamos a cuidar dela?!<br />
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Apenas vivendo completamente dissociados da nossa consciência e dos nossos sentimentos podemos fazer isso. Temos que nos forçar a esquecer que já fomos crianças também, temos de nos forçar a esquecer que o nosso primeiro instinto, em tempos, foi gostar dos animais e não matá-los e comê-los. Temos que nos dissociar da nossa consciência ao ponto de nos esquecermos da nossa parte carinhosa, capaz de se ligar e de respeitar os animais que pomos no prato. Acredito que, se a grande maioria das pessoas não estivesse tão habituada a ignorar a sua consciência, o mundo seria muito mais vegan.<br />
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Isto é demonstrado também por filmes como o Cowspiracy, que tem sido bastante falado ultimamente, pelo menos nas redes sociais. Este documentário demonstra claramente que a indústria da pecuária é a maior responsável pela eminente destruição do planeta e de todos os seus habitats. Um dos exemplos citados no documentário é o da quantidade de água necessária para produzir um simples hamburguer de 450g que seria o equivalente a tomar um duche durante dois meses! Este é só um exemplo que demonstra bem o efeito devastador e o elevadíssimo consumo de recursos que requer o facto de andarmos a alimentar animais com grãos e plantas que precisam de ser plantados, para depois serem colhidos e engordarem esses animais que, por sua vez, irão alimentar apenas um número reduzido de pessoas, muito inferior ao que seria alimentado caso estas plantas fossem usadas para alimentar directamente as pessoas.<br />
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<b>Então para além de uma completa destruição dos recursos e do planeta a indústria da carne contribui também para a fome em muitos países do terceiro mundo que são usados justamente para plantar alimento para esse gado que depois será vendido para os países mais ricos, enquanto os seus cidadãos passam fome.</b><br />
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Então, hoje em dia, sempre que vejo alguém a dar um bife ou hamburguer a um filho não posso deixar de pensar que aquela pessoa não tem a mínima consciência daquilo que está a fazer. Porque não só está a alimentar o seu filho com sangue e com violência mas, ainda por cima, está a contribuir fortemente para a destruição do mundo que ele irá habitar no futuro.<br />
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Então, se queremos alimentar verdadeiramente os nossos filhos precisamos mesmo de tomar consciência daquilo que lhes pomos no prato. <b>Precisamos de saber que não podemos cozinhar sangue com amor e carinho, mas também precisamos de saber que cada um desses pedaços de cadáver que lhes pomos no prato é uma contribuição que damos para destruir o mundo deles. </b>É uma contribuição que damos para destruir o mundo deles hoje, através da violência envolvida na morte da vida dos seres vivos que lhes pomos no prato, através da fome que outras crianças passam por causa dos campos que são usados para alimentar esses seres vivos e através da destruição das florestas, dos solos, dos oceanos e de toda a poluição e consumo de recursos que um simples pedaço de carne provoca.<br />
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Então é mesmo preciso que toda a gente tome consciência de que comer carne é um acto violento por todos estes motivos e não só. É um acto de violência e de desrespeito contra a vida dos animais mas, hoje em dia, também contra a vida de todos nós.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiH9CG9GNUWtWMIJ89Bc8ofIBIOY2Wbc8ce9SeBcXfHlb8Kjq9boSPpGbhmzhWMZMpx3iwK3mYzxdwx9Rixn2EcYYCFgkwp6Tpw38_HCxwrHym35YGll8GrSI5wo7OKjw1EHz2_sIV9vJc/s1600/20140401-003_.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="480" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiH9CG9GNUWtWMIJ89Bc8ofIBIOY2Wbc8ce9SeBcXfHlb8Kjq9boSPpGbhmzhWMZMpx3iwK3mYzxdwx9Rixn2EcYYCFgkwp6Tpw38_HCxwrHym35YGll8GrSI5wo7OKjw1EHz2_sIV9vJc/s200/20140401-003_.jpg" width="150" /></a></div>
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<b>Dar um passo em direcção ao veganismo é assumir que não vivemos sozinhos no mundo.</b> É assumir que precisamos de cuidar de nós, dos nossos filhos mas também do planeta que lhes vamos deixar. Adoptar um estilo de vida vegan, em alimentação e não só - reduzindo ao máximo o uso de produtos que envolvam o uso e sofrimento de animais - é admitir que não somos melhores que os animais só porque, aparentemente, somos mais inteligentes, é admitir que não temos o direito de destruir o mundo em que viverão os nossos filhos e netos e admitir que temos obrigação de pensar de uma forma verdadeiramente global.<br />
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<b>Muitas vezes, temos tendência para pensar que os nossos actos não contam. </b>Muitas pessoas, quando são confrontadas com os factos e com a eminente destruição do planeta e da vida têm tendência para se defender pensando que isso não deverá ser bem assim, ou que elas sozinhas não podem mudar grande coisa. <b>Mas precisamos urgentemente de assumir que cada um de nós conta. </b>Precisamos de ter coragem para mudar e para assumir responsabilidade pelas nossas acções, sem ficar à espera que seja o resto do mundo a mudar primeiro. Precisamos de nos lembrar que não estamos sozinhos no mundo, precisamos de ser capazes de ver mais longe do que o nosso próprio umbigo se queremos que os nossos filhos cresçam num mundo saudável. Pelo estado das coisas hoje em dia, precisamos mesmo de ser capazes de ver para além do nosso umbigo se queremos que os nossos filhos ou netos tenham mundo para crescer.<br />
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Porque pode parecer mais fácil não pensar nas coisas, pode parecer mais não as enfrentar, pode parecer mais fácil continuar a fazer o que sempre fizemos sem nos preocuparmos muito. Mas, na verdade, não o é. <b>Porque só podemos continuar a fingir que não se passa nada se nos distanciarmos de nós mesmos, da nossa consciência e da nossa verdadeira natureza. </b>Porque ninguém quer viver num mundo cheio de violência, de fome e de poluição. Se a grande maioria das pessoas tivesse que ver a vida e a morte dos animais que consome acredito que deixaria de os comer muito mais depressa. Então o veganismo é um caminho que nos permite sentir muito mais ligados ao animais, sim, mas também à natureza, a nós próprios e às outras pessoas.<br />
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Muitos estudos mostram que a solidão é um dos piores sentimentos que as pessoas podem ter. Há estudos que mostram que o facto da pessoa se sentir sozinha pode diminuir até 50% a sua esperança de vida. Os bebés, desde o primeiro dia em que nascem, procuram estabelecer relações. Observações de crianças que viveram em orfanatos - sobretudo na antiga europa de leste - onde tinham todas as condições de higiene e de alimentação mas não lhes era permitido estabelecer ligações com ninguém, nem sequer umas com as outras (por medo de contágios) tinham uma taxa de morte muito superior à das crianças que viviam em casa, muitas vezes até em condições mais precárias. Isto demonstra claramente que o homem é um animal social, com uma grande necessidade de pertença e de se sentir parte de um grupo, como o demonstram também vários estudos que mostram que pertencer a um grupo religioso, ou associativo podem aumentar muito o grau de satisfação com a vida.<br />
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Então, tomar a decisão de seguir um estilo de vida vegan significa abraçar esta ideia de que somos todos parte de um todo. De que todos vivemos neste planeta e todos temos o direito de viver da melhor forma possível. E isto pode realmente ser uma forma de vivermos todos mais felizes e em paz.<br />
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<b>E uma criança que cresce sabendo que não tem o direito de usar os animais apenas para sua conveniência é uma criança que cresce num mundo de respeito mas também de partilha.</b> É uma criança que cresce sabendo que não são apenas os seus desejos que contam. E, na verdade, é isto que todos queremos que os nossos filhos aprendam: que não estão sozinhos no mundo, que não podem pensar apenas em si, que existem outras pessoas e outros seres com os mesmos direitos e que precisam de ser respeitados. E uma criança que cresce a saber respeitar os animais e o planeta é uma criança que cresce também a saber respeitar as pessoas.<br />
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Mas, sempre que um pai ou uma mãe põe um bife no prato de um filho aquilo que lhe diz é justamente o oposto: que existem seres inferiores, que podemos usá-los à nossa vontade, que não importa o seu sofrimento. <b>Sempre que alguém põe um bife no prato de uma criança aquilo que lhe diz que é a violência até pode ser legítima desde que sirva os nossos interesses.</b><br />
E, hoje em dia, no meu ponto de vista, sempre que uma mãe ou um pai põe um bife no prato de um filho, em última análise, aquilo que lhes diz é: não me importo com os animais ou com a natureza mas nem sequer me importo o suficiente contigo porque não estou disposto/a a fazer um esforço para te deixar um mundo melhor.<br />
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Então é muito simples se queremos realmente que os nossos filhos cresçam num mundo justo, bonito saudável e com relações mais harmoniosas entre todos, precisamos urgentemente de tomar coragem e de assumir de uma vez por todas a responsabilidade pelas nossas acções. <b>E, se queremos que os nossos filhos cresçam a ser capazes de se importar com os outros e a respeitarem os animais mas também as pessoas e o planeta precisamos de começar por respeitá-los a eles e de não destruir o mundo que será deles com a nossa ignorância, com o nosso egoísmo e com a nossa incapacidade de agir. </b></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8429157455576509288.post-33590561678712800942014-11-21T05:13:00.001-08:002014-11-21T10:20:08.198-08:00Crescer com liberdade <div>
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Agora que começa a aproximar-se o Natal, com as típicas refeições em família que esta época implica uma das coisas que mais me começa a incomodar é a quantidade de doces que as pessoas comem com o uso de ingredientes animais. Porque até consigo compreender que alguém me diga que precisa de carne, peixe, leite ou ovos para viver e para se manter saudável - não concordo com esta afirmação, como é óbvio, mas compreendo que alguém a faça. Mas o que ninguém pode dizer é que precisa de um bolo de chocolate com chantilly para se manter saudável ou de um arroz doce para viver ou de qualquer outra sobremesa que tipicamente enche as mesas nesta altura.<br />
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<a href="http://www.avivaallen.com/resources/Raising_Vegetarian_Children.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://www.avivaallen.com/resources/Raising_Vegetarian_Children.jpg" height="212" width="320" /></a></div>
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Não consigo deixar de ficar chocada sempre que vejo alguém a fazer bolos cheios de ovos, ou leite ou a comer gelados carregados de leite e de natas, por exemplo. Porque que alguém acredite que precisa de carne ou leite para se manter saudável é muito diferente de acreditar que temos o direito de usar esses produtos apenas para fazer bolos, doces e todo o tipo de sobremesas que não fazem falta absolutamente nenhuma a ninguém.<br />
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<b>Mas, na verdade, pensando bem isto faz todo o sentido dentro do sistema do carnismo, uma expressão cunhada por Melanie Joy. </b>Esta psicóloga, professora e autora de livros e várias palestras em defesa do veganismo, criou esta expressão para designar um sistema que leva as pessoas a distanciarem-se cada vez mais das consequências dos seus hábitos - ao nível da alimentação e não só - e da forma como estes implicam o uso dos animais. Acredito que tem muito mérito a criação desta expressão e espero sinceramente que ela represente a capacidade que começamos a ter de perceber o que implicam as nossas escolhas. No tempo da escravatura a palavra racismo não existia, porque simplesmente se considerava ser uma realidade as pessoas de raça negra serem inferiores às brancas. No tempo em que as mulheres não tinham quaisquer direitos a expressão machismo também não existia porque se considerava que estas eram realmente seres inferiores.<br />
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<b>É verdade que já existe a expressão especismo para designar a forma como descriminamos algumas espécies a favor de outras: por exemplo, no mundo ocidental poucas pessoas teriam coragem de comer um cão ou um gato mas a maior parte não hesita em comer vacas ou porcos. </b>Mas a expressão carnista vai ainda mais longe para demonstrar que existe todo um sistema que, de forma automática ou quase inconsciente, procura preservar a ideia de que podemos fazer dos animais aquilo que quisermos e que eles existem apenas para satisfazer os nossos caprichos.<br />
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Porque não é nada mais que um capricho fazer um bolo de chocolate com quatro ou cinco ovos quando podemos perfeitamente fazer sem nenhum. Não é nada mais que um gesto de ignorância fazer um gelado com leite de vaca quando podemos usar leite de coco ou natas vegetais ou simplesmente fruta, por exemplo.<br />
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<b>Mas este sistema do carnismo faz muito mais do que manter-nos na ignorância acerca das consequências dos nossos gestos. Este sistema afasta-nos de nós próprios, dos nossos sentimentos e da nossa natureza. </b><br />
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Acredito numa evolução da espécie humana, acredito que o ser humano tem uma natureza boa e também acredito que, progressivamente, temos vindo a tornar-nos cada vez menos tolerantes com o sofrimento provocado pela nossa própria espécie. Basta pensar que na idade média, por exemplo, eram comuns rituais de tortura como o linchamento, o desmembramento, o enforcamento o queimar pessoas vivas na fogueira e tudo isto era feito em público, onde qualquer um podia assistir, incluindo até crianças. Hoje em dia, não passaria pela cabeça da grande maioria da população humana assistir a estes actos com a mesma naturalidade com que eram encarados nessa altura. É verdade que ainda existem sítios e países onde violência deste tipo continua a estar presente. É verdade que, em portugal, ainda temos touradas por exemplo, que são talvez um dos últimos resquícios deste tipo de barbaridade tornada um espectáculo público mas também é verdade que, apesar de tudo, esta vai começando a ser cada vez menos tolerada. E, na generalidade dos países ditos civilizados, acredito que caminhamos para sociedades cada vez menos violentas onde a violência gratuita é cada vez menos tolerada.<br />
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<a href="https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRFzhFbUAWIy768yR5M8kacofJa7L6yrc1qGg-MhnKmKDutVd3R" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRFzhFbUAWIy768yR5M8kacofJa7L6yrc1qGg-MhnKmKDutVd3R" /></a></div>
No seu livro, Melanie Joy, cita alguns estudos que chegaram à conclusão que o ser humano tem um desejo natural de não agredir, de não fazer o mal. Ela diz que se chegou à conclusão que, mesmo em cenários de guerra, a grande maioria dos soldados atira para falhar e não para acertar nos outros. Outro autor, Jonathan Haidt, estudioso da área da psicologia moral, no seu livro The Righteous Mind, também cita vários estudos que vão contra a famosa visão do gene egoísta e em que as pessoas parecem demonstrar essa propensão inata para colaborar umas com as outras sem se prejudicarem, mesmo em casos em que não se conhecem. Um desses estudos foi feito através da criação de um jogo que envolvia a distribuição de lucros e recompensas através da Internet e através do qual se concluiu que, mesmo em situações em que as pessoas não se conheciam nem se viam, a tendência geral era para distribuírem tudo de modo justo e igualitário umas pelas outras. Isto só mudava quando aparecia alguém no jogo que, propositadamente, começava a fazer as coisas funcionarem mais a seu favor. E aí, mesmo sem combinarem e sem o fazerem deliberadamente, todos os restantes participantes acabavam por se unir de forma a conseguirem castigar essa pessoa.<br />
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No seu livro Melanie Joy também fala das pesquisas que fez junto de pessoas que trabalhavam em matadouros e noutros sítios ligados à morte e ao uso de animais. Com estas pessoas Melanie Joy verificou que acontecia um de dois fenómenos: ou a pessoa ficava totalmente desligada dos seus afectos e se tornava numa pessoa fria, insensível e quase sádica capaz até de maltratar os animais de formas horríveis e sem grandes remorsos ou a pessoa acabava por ficar deprimida e com muito mais tendência para recorrer a álcool, drogas, ou outro tipo de comportamento que a ajudasse de alguma forma a tentar recalcar todo o sofrimento que via diariamente nos animais com que tinha de lidar.<br />
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Então esta pesquisa demonstra que o ser humano, salvo raras excepções, não está preparado para lidar com esse sofrimento, porque não faz parte da sua natureza infligir dor a outros seres indefesos.<br />
<br />
<b>Por isso, para que esse sofrimento continue a existir, é preciso que o carnismo nos permita desligar daquilo que sentimos cada vez que vemos um animal nos nossos pratos. </b>Precisamos de nos distanciar do que sentimos e do sofrimento que sabemos que foi provocado aquele animal para que acabasse ali na nossa mesa, para sermos capazes de o comer.<br />
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Acontece que, quando aprendemos a fazê-lo de forma automática, não é fácil voltarmos a dar espaço a esses sentimentos. Porque eles provocam mal-estar, desconforto e temos medo de não ser capazes de lidar com isso.<br />
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Muitas pessoas dizem que não são capazes de ver documentários como o earthlings, por exemplo, que retrata todo o sofrimento a que estão sujeitos os animais da indústria justamente porque não se sentem capazes de enfrentar todo esse sofrimento porque, depois de tantos anos a tentarem desligar essa parte de si próprias, pode ser muito assustador deixar que tudo volte assim, de repente. Até porque isso obriga-nos a admitir que, muitas das coisas que tomamos como certas, afinal estão mesmo profundamente incorrectas. E isto implica também aceitar que os nossos pais e professores e outras pessoas nos ensinaram coisas erradas e que, nós, muitas vezes as ensinámos também aos nossos filhos. E é precisa alguma coragem para enfrentarmos assim todas as nossas certezas e para por em causa toda a visão do mundo que fomos construindo.<br />
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Mas a verdade é que, se todo o mundo tivesse ignorado o sofrimento dos judeus e dos outros prisioneiros nos campos de concentração o mundo hoje seria um lugar muito diferente de certeza. <b>E a verdade é que é ainda mais doloroso afastarmos-nos da nossa própria natureza.</b> É ainda mais doloroso tentarmos esconder-nos dos nossos sentimentos e esquecermos-nos de quem somos.<br />
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<b>E acredito que este sistema do carnismo está na base da violência contra os animais mas está também na base da violência contra nós próprios e contra os outros seres humanos</b>. Porque quando somos ensinados, desde pequenos, a desligar-nos da nossa parte que sente, que se preocupa, que quer o bem dos outros seres, então não sabemos até que ponto é que nos estaremos a desligar não apenas dos animais mas de todos os outros seres vivos.<br />
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Há também estudos interessantes que mostram que mesmo bebés pequenos, de seis e nove meses, já reagem às injustiças. Estes bebés são colocados perante a imagem de uma figura que tenta subir uma superfície inclinada ao mesmo tempo que empurra um objecto. Pouco depois surge uma outra figura que a tenta ajudar e depois uma outra que a tenta prejudicar. No final estas figuras são disponibilizadas num tabuleiro para que a criança escolha com qual quer brincar. A grande maioria dos bebés prefere brincar com a figura que ajudou e ignora a que prejudicou. Isto demonstra que, mesmo bebés tão pequenos, já têm alguma noção do que é certo ou errado mas, acima de tudo, acredito que demonstra a nossa natureza de querer o bem dos outros seres.<br />
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Então se ensinamos a todas crianças que é bonito fazer o bem e não prejudicar ou magoar os outros devemos começar a ensiná-los que isto é válido também para os animais, para todos os animais, não apenas para os gatos e cães. E, se lhes ensinarmos isto acredito que lhes estamos a dar espaço para crescerem em harmonia com os outros mas também consigo próprias.<br />
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Porque dói cada vez que vejo alguém por um cadáver na mesa e comê-lo como se nada fosse, porque dói cada vez que vejo alguém despejar pacotes de leite para fazer um bolo sem se preocupar com o que está por trás disso, porque dói cada vez que vejo crianças e adolescentes a aprenderem a alimentar-se dos corpos de outros seres e dói ainda mais cada vez que o fazem na mesma mesa que eu. Sim, dói constatar diariamente esse sofrimento nas prateleiras dos supermercados, nas montras dessas lojas de cadáveres a que chamam talhos e até nos pés das pessoas que usam restos de outros seres como se ainda fôssemos homens primitivos que não têm ao seu dispor mais do que a pele dos animais que matam para se protegerem do frio. Tudo isto dói e dói ainda mais quando ainda por cima precisamos de nos calar porque nós é que somos extremistas e radicais e não devemos perturbar o repasto das outras pessoas. Mas, mais do que todas estas dores, dói mesmo, de verdade, quando nos distanciamos de nós à custa de querermos esquecer a nossa verdadeira natureza. <b>Dói mesmo quando deixamos de dar valor aos nossos sentimentos apenas para não nos incomodarmos a nós e os outros. </b>E, mais do que qualquer outra dor que sei que não vou poder evitar, não quero que o meu filho sinta a dor de não poder ouvir o seu coração, de não poder ser ele próprio de não poder estar em paz com a sua consciência.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://safetynetkids.com/wp-content/uploads/2011/03/Safety4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://safetynetkids.com/wp-content/uploads/2011/03/Safety4.jpg" height="214" width="320" /></a></div>
Quero que o meu filho cresça com a paz, com a liberdade e com a tranquilidade de coração que vejo no vídeo destas crianças que aqui deixo. <b>Porque, se para muitos o veganismo é um caminho de repressão porque temos de fazer escolhas e de nos privar de algo, para mim é um caminho de liberdade.</b> De verdadeira liberdade porque nos permite estar em paz connosco, com a nossa consciência e com a natureza.<br />
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<a href="https://www.youtube.com/watch?v=xSHIRLvPbvk">Vídeo - crianças veganas </a></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8429157455576509288.post-43020262504365768202014-10-30T10:36:00.001-07:002014-10-31T05:11:10.385-07:00Educar para a diferença<div style="text-align: justify;">
Educar para a diferença é uma frase que está na moda mas que, na verdade, ainda não é muito posta em prática.<br />
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Sempre que falamos em alimentação vegan numa criança a primeira coisa que surge é o medo da diferença. Tal como muitos outros pais, quando o meu filho começou a escola, dei comigo a pensar que não queria que ele sofresse com as nossas opções, que não queria que ele se sentisse mal por ser diferente e não queria que os outros o fizessem sentir mal por ser diferente.<br />
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E este é o receio da grande maioria das pessoas quando sabem que uma criança tem uma alimentação ou um modo de vida que implica algumas diferenças em relação à maioria: a estigmatização da criança, o medo de não ser aceite, de não conseguir integrar-se, de ser rejeitada e incompreendida. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Isto acontece porque, na verdade, vivemos numa sociedade que, apesar de todos os progressos que se vão fazendo, ainda lida muito mal com a diferença.</b> Só há pouco tempo, por exemplo, é que começou a ser mais comum a integração de crianças com necessidades especiais nas turmas "normais". E isto ainda não é a regra em todas as escolas. Basta ver toda a polémica em torno da adopção de crianças por casais homossexuais, que ainda não somos capazes de aceitar enquanto sociedade, para se perceber que realmente lidamos muito mal com a diferença.<br />
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<div style="text-align: justify;">
Principalmente quando essa diferença mexe com valores fundamentais da nossa visão do mundo. E o veganismo faz isso, porque, quando nos tornamos vegans, afirmamos que não precisamos de animais para viver, nem para nos vestirmos nem para nenhuma outra coisa em que eles são habitualmente usados. E afirmamos isso todos os dias simplesmente por escolhermos coisas diferentes para por no prato e coisas diferentes para vestirmos ou usarmos. E muitas pessoas sentem que, ao fazermos essas escolhas, de algum modo estamos a criticar as delas. E, como se costuma dizer, a melhor defesa é o ataque, o que quer dizer que, neste caso, muitas pessoas preferem atacar quem escolhe essa diferença como forma de não terem que entrar em contacto com o desconforto que sentem ao serem confrontadas com as suas opções.<br />
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Então, em primeiro lugar, é preciso perceber que o facto de não estarmos de acordo com algumas pessoas em certos aspectos, por muito importantes que estes sejam, não significa que estejamos a rejeitar essas pessoas.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os meus valores e a minha consciência dizem-me que não é certo comer animais, que não é correcto usá-los para nosso benefício e conforto, muito menos da forma como são usados hoje em dia. Mas isto não significa que eu rejeite todas as pessoas que o fazem, não significa que, automaticamente, eu condene todas as pessoas que o fazem. Gostaria muito de viver num mundo onde todos pensassem da mesma forma que eu a respeito desta questão, gostaria mesmo muito que o meu filho pudesse crescer num mundo em que não fosse diariamente confrontado com a violência com que os animais são tratados. Mas, isto não significa que me sinta no direito de julgar as pessoas que não vêem as coisas deste modo, até porque eu própria já fui uma delas. Tenho esperança e quero acreditar que, no fundo, todas elas sabem que é importante mudar, no fundo de si próprias todas as pessoas sabem que é errado tratar os animais com a violência e o desrespeito com que os tratamos hoje em dia. Mas ainda não chegaram ao ponto em que são capazes de ser verdadeiras consigo próprias e com a sua consciência. E isto eu não tenho o direito de julgar, posso ter esperança que cheguem lá um dia e fazer o que estiver ao meu alcance para que esse dia chegue o mais depressa possível mas, até lá, isso não quer dizer que eu não as respeite, não as estime e não as possa aceitar tal como são.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLq6qPzkxdr-FdK4eZ3TfLunoIwoU5GM9Sk06xbXomVmMq0IUNw6JkzVOPVgCzrVmjLEaoudsndrEvdsCDvHelmq1W4GmtsOfbB3p472nhBMZJJlg2f8cvK_421Du65p_2tajy45-gi-o/s1600/colaborar.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLq6qPzkxdr-FdK4eZ3TfLunoIwoU5GM9Sk06xbXomVmMq0IUNw6JkzVOPVgCzrVmjLEaoudsndrEvdsCDvHelmq1W4GmtsOfbB3p472nhBMZJJlg2f8cvK_421Du65p_2tajy45-gi-o/s1600/colaborar.jpg" /></a></div>
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<b><span style="color: blue;">Necessidade de pertença a um grupo</span></b><br />
<b><span style="color: blue;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
Na verdade todos nós temos uma necessidade intrínseca de pertencer a um grupo. Jonathan Haidt um psicólogo que se dedicou a estudar a área da psicologia moral afirma que o ser humano é parte macaco e parte abelha. Porque, em muitos aspectos, vivemos numa sociedade que só funciona enquanto todos colaborarmos e nos respeitarmos uns aos outros. <span style="background-color: white; line-height: 20.7900009155273px; text-indent: 47.2000007629395px;"><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><b>Segundo este autor, nós não somos animais solitários, o ser humano, enquanto espécie, evoluiu como membro de um grupo e, por isso precisamos de nos sentir integrados e acolhidos para sermos felizes e nos sentirmos seguros e preenchidos.</b> Para este psicólogo é esse um dos grandes benefícios da religião: dar-nos essa sensação de que pertencemos a algo maior do que nós mesmos, essa sensação que o nosso eu individual pode fazer parte de algo maior, mais profundo e mais intenso. É também isso que nos faz gostar de estar no estádio cheio de gente a torcer pela mesma equipa, ou num concerto por exemplo. Quando estamos no meio de uma multidão com objectivos comuns isso faz-nos esquecer temporariamente o nosso eu pequenino, sozinho e limitado e dá-nos uma sensação de sermos maiores, mais fortes, mais capazes e mais espaçosos. Por momentos cria-se a sensação de que somos o grupo todo e esse grupo é algo mais poderoso e intenso do que apenas a soma de todos os eus individuais que o constituem. Nas sociedades orientais, que são mais sacralizadas, está mais presente essa dimensão do grupo no dia a dia das pessoas. No ocidente valorizamos mais o indivíduo que o grupo e isso, por vezes, pode trazer-nos uma certa sensação de vazio por falta desse sentimento de pertença. </span></span><br />
<span style="background-color: white; line-height: 20.7900009155273px; text-indent: 47.2000007629395px;"><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
Isto acontece mais facilmente quando estamos nestes grandes grupos mas também pode acontecer com uma prática de meditação, por exemplo. Alguns estudos mostram que as pessoas que vivem mais sozinhas têm mesmo uma esperança de vida significativamente mais reduzida. Isto demonstra a forma como precisamos realmente de nos sentir parte de um grupo, de uma comunidade.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esta necessidade de pertença torna-se ainda mais presente na adolescência. Durante a infância, se tudo correr bem, o grupo a que a criança precisa de sentir que pertence são principalmente os seus pais, a sua família nuclear. É aqui que a criança começa a formar a sua identidade e é aqui que deve sentir-se primeiramente acolhida e aceite. Mas a adolescência é período em que a criança se prepara para formar uma identidade própria. A adolescência é a altura em que o jovem começa a ensaiar a sua partida para o mundo. É por isso que, nesta altura, os amigos começam a ter muito mais importância e o jovem começa a ter muito mais tendência para se querer vestir como os seus amigos, para querer fazer e gostar das mesmas coisas que eles. Porque esta é uma forma de o jovem sentir que pertence a uma comunidade, a um grupo, onde se sente acolhido e aceite. Então, nesta altura é muito natural que o jovem experimente desviar-se um pouco das regras da família, principalmente se estas forem muito diferentes das do grupo em que se insere. Porque é muito mais fácil sentir que pertencemos a um determinado grupo quando pensamos da mesma forma que as outras pessoas desse grupo, quando sabemos que temos a mesma visão do mundo.<br />
<br />
Nesta altura é muito natural que o jovem queira experimentar vários papeis para ter a certeza daquele em que se insere. E, no caso de um jovem que tenha tido uma alimentação sempre vegetariana, nesta altura é possível que tenha alguma vontade de experimentar produtos animais. Até Gandhi, na sua biografia conta que passou por uma fase em que comia carne, às escondidas da sua mãe porque sabia que isto lhe daria um desgosto enorme se o soubesse. Mas, depois deste desvio e desta experiência, Gandhi descobriu porque é que era realmente importante ser vegetariano e, voltando aos valores fundamentais com que fora educado, percebeu que o respeito pelos animais era realmente uma parte importante do caminho da não-violência que começava a trilhar e a defender.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então, tal como Gandhi experimentou comportamentos diferentes até encontrar aquele que estava de acordo com a sua verdadeira identidade, é natural que um jovem criado nesta sociedade como vegetariano tenha alguma necessidade de comer carne em algum momento da sua vida. Mas, se ficou lá a sementinha do respeito pela vida, também é muito natural que ele acabe por descobrir mais cedo ou mais tarde, que o seu papel na vida não precisa de passar pela violência contra os outros seres vivos.<br />
<br />
Para isto também é importante que a relação com os pais tenha sido boa e que o jovem não tenha sentido que esta opção lhe foi simplesmente imposta sem diálogo e sem explicações. Uma criança que cresce com este sentimento de pertença à sua família é uma criança que se torna mais segura.<br />
<b>Quando esse sentimento de pertença não é preenchido em criança, é muito provável que acabemos por ter necessidade de o procurar noutros lados. E, se essa falta for muito grande, é mais fácil que a pessoa esteja disposta a sacrificar os seus valores e gostos individuais para se sentir integrada num determinado grupo. </b><br />
<br />
Uma criança que se sente respeitada e acolhida na sua família é uma criança que cresce a ser capaz de respeitar os outros e uma criança que está habituada a estar em contacto com os seus sentimentos e que está habituada a ver os seus sentimentos serem bem acolhidos e respeitados pelos pais também é uma criança que terá muito mais probabilidades de se manter fiel aos seus valores e à sua consciência.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então para ter a coragem de ser diferente, o jovem tem que ter a certeza de quem é e tem que se sentir bem com esta sua identidade. E porque esta necessidade de pertença a um todo, a algo maior do que nós é real e importante também pode ser muito útil que a criança ou o jovem encontrem outras formas de sentir que pertencem a um grupo.<br />
<br />
Por outro lado também pode ser útil treinarmos a nossa capacidade de perceber que, mesmo quando não estamos de acordo em alguns valores fundamentais, há muitas coisas que nos podem unir aos outros e há muitas formas de nos ligarmos às pessoas mesmo quando não partilham a nossa visão do mundo. Não precisamos de nos isolar e, se nós estivermos dispostos a mostrar que convivemos bem com a diferença, se o ensinarmos aos nossos filhos, será meio caminho andado para que os outros convivam bem connosco também.<br />
<br />
E, na verdade, é também muito importante ensinarmos aos nossos filhos que não precisamos todos de ver o mundo com as mesmas cores para podermos dar-nos bem e para nos respeitarmos. <b>É importante que as crianças cresçam reconhecendo a sua própria necessidade de se integrarem e de pertencerem a um grupo mas sabendo também que não precisam de apagar a sua identidade individual para o fazerem. </b><br />
<br />
Afinal de contas esta intolerância e incapacidade de lidarmos com alguém cujos valores são muito diferentes dos nossos, juntamente com esta grande necessidade de pertença, estão na base de muitas guerras e vários problemas graves do nosso mundo.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://learnonline.canberra.edu.au/pluginfile.php/844029/mod_book/chapter/1788/groups.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://learnonline.canberra.edu.au/pluginfile.php/844029/mod_book/chapter/1788/groups.jpg" height="213" width="320" /></a></div>
Então acredito que darmos segurança aos nossos filhos e espaço para aprenderem a entrar em contacto com os seus sentimentos, mostrando-lhes que estes devem ser respeitados e acolhidos é o melhor caminho para criarmos adultos capazes de serem fieis aos seus valores e também de criarmos adultos capazes de respeitar todos os seres, percebendo que ser diferente não é ser melhor nem pior, é apenas ser diferente. Tal como os animais são diferentes das pessoas e não merecem menos respeito por isso.<br />
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<b><span style="color: blue;">O conformismo social </span></b><br />
<b><span style="color: blue;"><br /></span></b>
Há alguns estudos interessantes que demonstram a forma como o ser humano tem necessidade de se sentir incluído. Nos anos 50, Asch fez umas experiências sobre conformismo social que ficaram célebres (ver <a href="https://www.youtube.com/watch?v=qA-gbpt7Ts8">aqui</a> vídeo). Nestas experiências havia um sujeito que estava numa sala com várias pessoas sem saber que estas estavam combinadas com os investigadores. Estas pessoas viam uma série de linhas e tinham que dizer, em voz alta qual era que era igual à primeira. A resposta era óbvia mas tinha sido combinado que dariam todas a resposta errada. A grande maioria das pessoas que participou na experiência, começava por dar a resposta certa mas, ao fim de pouco tempo, acabava também por dar a resposta errada apenas para estar de acordo com os outros. Também acontecia que a pessoa se chegava mesmo a convencer mesmo que o grupo estava certo. Um aspecto interessante desta experiência é que, se a pessoa tivesse um aliado, que desse também a resposta certa, a grande maioria das pessoas já dava a resposta certa.<br />
<br />
Uma outra experiência ainda mais extrema foi pensada por Stanley Migram e levada a cabo, com várias pessoas, de diferentes idades e estratos sociais, nos anos 60 e 70. Nesta experiência os voluntários estavam numa sala com um examinador enquanto viam através de um vidro uma terceira pessoa que acreditavam ser também um voluntário na experiência. Era-lhes dito que estavam a fazer uma experiência sobre a forma de aprendizagem da outra pessoa e iam fazer-lhe algumas perguntas. Cada vez que a pessoa errava a pergunta o analisador dizia ao voluntário para dar um choque à pessoa. E a voltagem dos choques ia aumentado sempre. U<b>ma chocante maioria de 65% das pessoas, quando a ordem era dada pelo analisador, era capaz de dar choques até aos 450 voltes, uma voltagem que poderia provocar a morte das pessoas, mesmo quando a pessoa do outro lado gritava e se contorcia com dores. </b><a href="https://www.youtube.com/watch?v=mwrLHqtodII">Ver aqui o vídeo</a><br />
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Estas eram pessoas normais e há quem use os resultados destas experiências para explicar o que aconteceu no tempo dos nazis, por exemplo, em que pessoas aparentemente normais foram capazes de cometer os actos mais hediondos. Porque estas experiências mostram como estamos dispostos a ignorar a nossa consciência e os nossos valores em nome deste sentimento de pertença e de integração. E mostram também que, se não estamos habituados a valorizar o que sentimos a ser responsáveis pelas nossas acções é muito mais mais fácil desresponsabilizarmos-nos dos nossos actos e fazermos coisas que podem prejudicar os outros, desde que sintamos que a culpa não é nossa.<br />
<br />
Isto é também um dos aspectos que permite a manutenção daquilo a que Melanie Joy chama o sistema do carnismo. Porque nos permite sentir afastar a culpa de sabermos que somos todos os dias cúmplices do sofrimento de milhares de animais pelo mundo.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://encrypted-tbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRu2P8cq8HFrFJfJr7DcbSarPLxwLI_WpyBPSxB8VwN0j2-5hOOmQ" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://encrypted-tbn3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRu2P8cq8HFrFJfJr7DcbSarPLxwLI_WpyBPSxB8VwN0j2-5hOOmQ" /></a></div>
<b>Então, para que isto não aconteça, é mesmo fundamental que sejamos capazes de ensinar os nossos filhos a serem responsáveis pelas suas escolhas, a estarem atentos aos seus sentimentos e a serem fieis à sua consciência e isto passa também pelo facto de serem capazes de ser diferentes.</b> Porque é exactamente este tipo de conformismo que está na origem na perpetuação da forma como tratamos os animais hoje em dia. E é também este conformismo que está na origem de muitos problemas graves dos nossos dias.<br />
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Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8429157455576509288.post-14800181377563283102014-10-03T08:30:00.001-07:002018-01-05T02:04:57.394-08:00Sem açúcar com afecto <div style="text-align: justify;">
Há uns tempos, quando estava na praia com o meu filho e ele brincava com outros meninos houve uma senhora que se ofereceu para ir buscar gelados para todos e lhe perguntou se ele também queria. Quando respondi que ele não comia gelados a senhora fez uma cara de tristeza como se tivesse acabado de lhe dizer que ele sofria de algum tipo de doença terminal. Não me esqueci desta cara e foi um episódio que me deixou a pensar. Até porque não foi a primeira vez que vi aparecer esta expressão na cara das pessoas que acontece principalmente quando vamos a festas de anos em que os outros miúdos se empanturram alegremente com todo o tipo de porcarias.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Desde que me tornei vegan consegui também eliminar de vez o açúcar da minha alimentação e, sempre fiz questão, de que este não estivesse presente na alimentação do meu filho o que não quer dizer que lhe faltem doces. Antes pelo contrário até, porque há formas de se fazer doces sem usar açúcar. Nos primeiros tempos em que deixei o açúcar ainda usei algumas geleias de milho ou de arroz para o substituir mas depois percebi que estas também não são grande alternativa porque também acabam por ser um produto refinado com um alto índice glicémico (apesar de provavelmente não serem tão nocivos como o açúcar, principalmente do ponto de vista da dependência), mas percebi que a única forma verdadeiramente saudável de adoçar alguma coisa será com alimentos inteiros e não processados. Para isto uso muitas vezes tamaras (que de todos os frutos secos são os que têm o menor índice glicémico) ou bananas bem maduras, mas também já usei passas ou figos secos, por exemplo.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No entanto, sempre que vamos a alguma festa, apesar de eu fazer questão de levar quase sempre algum doce que saiba que ele gosta para que possa ter alguma coisa boa para comer, há sempre alguém que fica com muita pena dele porque "o menino coitadinho não come doces". Na verdade ele come bolos, gelados e bolachas - às vezes, se calhar, até demais - porque é possível comer isso tudo vegan e sem açúcar mas, para estas pessoas, isto não chega porque não conseguem perceber que a experiência dele é diferente da delas.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Quando alguém fica com pena do meu filho porque não pode comer gelados ou bolos ou chocolates a torto e a direito penso que essas pessoas não têm noção de que estão a usar um mecanismo que, em psicologia, se chama projecção.</b> Este é um mecanismo de defesa que consiste em projectar os nossos pensamentos, sentimentos, emoções, medos ou desejos inconscientes, noutra pessoa para que não tenhamos de encará-los como nossos. Isto quer dizer que, muito provavelmente uma parte dessas pessoas também sente pena de não poder comer tudo o que gostaria, porque faz mal ou porque engorda ou porque simplesmente se reprimem por outro motivo qualquer e essa pena é projectada no outro que, neste caso, acontece ser o meu filho.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYd-Rx6X15BwMcqMiBY5zB90WFF2FMgTUFrcghwRL04TWV6jMUywWESCJvKVqWoYQ66LBmmcve_LQRJj7CYwiO82L5Pgy9S_-dl74g29SioMN3btpmvyyRxtOYNuSAgmwxUI-ICNImYQs/s1600/008.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYd-Rx6X15BwMcqMiBY5zB90WFF2FMgTUFrcghwRL04TWV6jMUywWESCJvKVqWoYQ66LBmmcve_LQRJj7CYwiO82L5Pgy9S_-dl74g29SioMN3btpmvyyRxtOYNuSAgmwxUI-ICNImYQs/s1600/008.JPG" width="240" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Nós criamos uma ligação afectiva com a comida de acordo com a nossa experiência</b>. Por exemplo, se os nossos avós nos davam um chocolate sempre que os íamos visitar é muito natural que essa experiência de comer o chocolate fique associada ao prazer de estar com eles e de nos sentirmos bem-vindos e bem recebidos. Ou se os nossos pais nos costumavam levar de vez em quando a algum lado onde comíamos um bolo ou um gelado especial, também é muito natural que essa situação e esse prazer de estar com os nossos pais e de sentir que gostam de nós fique associado ao prazer de comer o gelado ou bolo. Porque muitas vezes usamos a comida para mostrar o nosso afecto pelos outros.<br />
<br />
<b>A experiência de comer e de ser alimentado está muito ligada ao acto de ser cuidado: </b>quando somos bebés precisamos de ter alguém a cuidar de nós, a alimentar-nos. E com a amamentação temos também a nossa primeira experiência de unir a alimentação ao prazer: o prazer físico de sentir esse alimento precioso mas também o prazer psicológico de sentirmos a nossa mãe cuidar de nós, o conforto de sentir esse contacto físico que, para um bebé, é fundamental, essa presença quente e acolhedora que é tão importante para a sobrevivência de um bebé como a alimentação. Então desde as nossas primeiras experiências que a alimentação fica associada a carinho, a cuidado, a amor, a afecto. E por isso acaba sempre também por estar ligada a uma forma de expressar cuidado e carinho.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando uma criança vai visitar os avós, por exemplo, é muito comum que estes tenham vontade de expressar o seu carinho e cuidado dando-lhe algum tipo de doce. E, numa espécie de ciclo, vamos aprendendo a associar estes momentos em que nos sentimos acarinhados e cuidados com esses pequenos gestos e sabores.<br />
<br />
Então essas pessoas que ficam muito incomodadas com o meu filho quando pensam que não come doces também é muito possível que estejam a projectar nele uma certa falta de se sentirem cuidadas, acarinhadas.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Por outro lado, também estamos de certo modo programados para gostar de coisas doces.</b> Na nossa natureza o gosto pelo doce é um gosto inato, ou seja, não precisa de ser adquirido. Por razões de sobrevivência talvez, as crianças nascem já uma tendência inata para gostarem de coisas doces. Porque antigamente, muitas vezes, não era garantido que tivéssemos acesso a todas as calorias de que necessitamos para sobreviver e os doces, geralmente, são boas fontes calóricas, por isso era importante garantirmos que, sempre que possível, os ingeríamos. Até porque não havia tanto perigo de os ingerirmos em excesso, uma vez que não eram tão abundantes como hoje em dia.<br />
<br />
Por outro lado, para além das calorias, quando pensamos em coisas que são naturalmente doces encontramos apenas as frutas e pouco mais. E, as frutas são de facto algo fundamental para a nossa sobrevivência, do ponto de vista das calorias mas também das vitaminas e de tudo o que nos fornecem. São dos poucos alimentos cuja ingestão é mesmo fundamental para uma boa saúde e por isso a natureza procurou encontrar forma de garantir que teríamos vontade de as comer. E, a grande maioria das crianças quando começa a comer come mais facilmente a fruta do que qualquer outra coisa, a não ser que lhes viciemos desde logo o paladar com papas que vêm já assustadoramente carregadas de açúcar. O próprio leite materno, geralmente, tem um sabor bastante adocicado.<br />
Além disso quando uma coisa é doce é menos provável que esteja estragada - as coisas estragadas normalmente sabem a azedo - por isso também não deverá representar perigo para a nossa sobrevivência. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Acontece que, hoje em dia, temos acesso a todo o tipo de alimentos que, antigamente só muito raramente se encontravam. O açúcar refinado que hoje encontramos com uma naturalidade assustadora na nossa alimentação é uma invenção relativamente recente e nunca foi comido em tão grandes quantidades como as que se ingerem vulgarmente hoje em dia. Há estudos que mostram que esta substância - não posso chamar-lhe alimento porque o açúcar refinado é composto apenas de calorias vazias, ou seja, não tem nenhum elemento útil para a saúde do corpo - pode ser tão viciante como a cocaína, activando as mesmas zonas do cérebro.<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrFmtuJZzhM5ci7prJMXpaFi7tBXOKLoSTXGasPZNdAUPSpGDNNWgBPeNOeN_woQvt4VrOfblaBt0wbzB-Vy4KId6aLOYQoy004tHAE8XVyZDgFnKcriL3NwEHaG0A9gZ20vVPovJvM8Hu/s1600/Blueberry+Almond+Lavender+Cake+1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrFmtuJZzhM5ci7prJMXpaFi7tBXOKLoSTXGasPZNdAUPSpGDNNWgBPeNOeN_woQvt4VrOfblaBt0wbzB-Vy4KId6aLOYQoy004tHAE8XVyZDgFnKcriL3NwEHaG0A9gZ20vVPovJvM8Hu/s1600/Blueberry+Almond+Lavender+Cake+1.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Há muitas pessoas que fazem questão de me dizer que um bocadinho de açúcar não faz mal nenhum. Aqui é preciso ter noção de que, se falamos de açúcar não refinado, pode até não fazer mal comer um pouco muito de vez em quando mas nunca com a regularidade com que hoje em dia se consome, sobretudo em crianças pequenas. Acontece que, ainda por cima, nem sequer é esse o açúcar que encontramos na grande maioria dos casos.<br />
<br />
Mas, de qualquer modo, essa questão do açúcar acaba por se tornar secundária na medida em que a grande maioria dos doces que encontramos com facilidade não são vegans e por isso, voltamos à questão inicial de uma criança que não cresceu com essas experiências não fazer esse tipo de associação e por isso, aquilo que ele associa a esses momentos de carinho e cuidado são comidas muito diferentes que podem perfeitamente ser saudáveis.<br />
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Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8429157455576509288.post-73676431437641063852014-09-30T07:55:00.002-07:002015-06-03T03:13:37.148-07:00Como tudo começou<div style="text-align: justify;">
Tornei-me vegetariana aos 19 anos sem pensar muito sobre o assunto. Porque simplesmente me deixou de parecer natural comer animais mortos. Durante quase 20 anos fui vegetariana e durante a maior parte desse tempo comprava ovos de galinhas criadas ao ar livre e iogurtes biológicos (leite e natas nunca comprei porque só usava de soja) acreditando nas imagens que nos vendem que mostram galinhas contentes a por ovos no campo e vacas felizes a darem leite como se isso fizesse parte da sua natureza.<br />
<br />
Durante todo este tempo acreditei no que me vendiam e usava sapatos com pele de vaca porque pensava para comigo própria que as vacas eram mortas por causa da indústria da carne mesmo, por isso eu estava apenas a aproveitar aquilo que sobrava desse mercado. E, sempre que via uns sapatos ou umas botas de que gostava e a consciência me incomodava pensava que, de qualquer maneira, não tinha outra opção porque não havia outra escolha e precisava de andar calçada e também era importante usar alguma coisa que protegesse do frio e da chuva e, de qualquer maneira, ninguém matava as vacas só por causa da pele, elas já estavam mortas mesmo por causa da carne. E com estes pensamentos lá tentava anular a tal vozinha da minha consciência que me perguntava se as coisas seriam mesmo assim. E lá deixava que a essa voz da consciência se sobrepusesse a outra do desejo e da preguiça que queria ficar satisfeita com um par de sapatos bonitos encontrados já ali.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://elnuevodespertar.files.wordpress.com/2011/07/veganismoviveydeja.jpg?w=496&h=264" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://elnuevodespertar.files.wordpress.com/2011/07/veganismoviveydeja.jpg?w=496&h=264" height="170" width="320" /></a></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando o meu filho nasceu ainda acreditava na ideia que nos vendem de que o leite é essencial para o crescimento das crianças. E apesar de estar informada sobre os benefícios da amamentação e de o ter amamentado até ele próprio decidir parar ainda não tinha tomado consciência da incongruência de uma sociedade que reprova a amamentação de crianças mais crescidas mas encoraja que passem a beber leite de uma outra espécie. Até que o meu filho começou a comer papa. E como bons pais que éramos começámos a pôr-lhe uma colherzinha de leite em pó nas papas para que crescesse bem e com bons ossos. Biológico claro, porque as vacas dos pacotes de leite biológico têm um ar tão feliz e descansado. Acontece que a partir daí o meu filho começou a ter uma série de complicações de saúde: diarreias constantes com muco, barriga cada vez mais inchada, cada vez mais gases, refluxo, dores de barriga e, ele que nunca foi gordo, já nem sequer entrava nas tabelas dos percentis de tão magrinho que estava. E, apesar de sempre ter sido alto, houve um altura em que chegou mesmo a parar de crescer. Com tudo isto a médica apontava para doença celíaca. Mas, nós víamos que sempre que parávamos de lhe por leite na papa, as diarreias paravam.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fizemos análises ao sangue que não revelaram nenhuma intolerância à lactose. Mas a verdade é que as diarreias com muco voltavam sempre que reintroduzíamos o leite. </div>
<div style="text-align: justify;">
O meu marido já sabia que era intolerante aos lacticínios que já tinha deixado de consumir há algum tempo e, para nós, era cada vez mais claro que o nosso filho também o era. Assim comecei a pesquisar algumas coisas na internet sobre intolerância aos lacticínios. </div>
<div style="text-align: justify;">
Uma das coisas que descobri foi que é relativamente comum que as análises não revelem a intolerância aos lacticínios, mesmo quando esta existe, porque a lactose no nosso organismo é transformada numa outra molécula e é essa que, muitas vezes, o corpo reage, mesmo que não reaja à lactose propriamente dita. Este médico cardiologista explica isso, entre outras coisas importantes, neste <a href="https://www.youtube.com/watch?v=6HjLfZeqkuE">video</a>.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E atrás de umas coisas vieram outras. Lembro-me que ainda me foi difícil deixar de acreditar no mito do cálcio no leite de vaca que nos querem fazer querer que é tão essencial. Tinha medo de estar a privar o meu filho de algo que fosse realmente importante para a sua saúde. E era difícil calar essas vozes que diziam que o leite é essencial para as crianças. Mas quando comecei a ver que os dados eram inquestionáveis e que o leite que é essencial para o crescimento das crianças é o leite da sua própria espécie e não de uma outra com requisitos e necessidades nutricionais totalmente diferentes, então outras portas se abriram.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E a partir daí lembro-me que comecei a ver muitos vídeos na internet sobre a forma como as vacas são repetidamente violadas, para engravidarem e como lhes retiram os filhotes para que possam continuar a dar leite. Até essa altura acho que simplesmente pensava que as vacas davam leite porque sim. Porque era natural darem leite, como se a natureza as tivesse criado apenas para a nossa comodidade. E nunca me tinha perguntado o que é que era preciso para que continuassem a dar leite. </div>
<div style="text-align: justify;">
Nessa altura, por acaso, estava também a ler a Cabana do Pai Tomás, um livro sobre a escravatura. E tornou-se tão claro que a forma como os escravos eram vistos e tratados é exactamente a forma como vemos os animais hoje em dia. Alguns donos de escravos até eram bonzinhos, até os tratavam bem, até lhes davam muita comida e um sítio não muito mau para dormir. Mas não deixavam de ser escravos. Nem todos pensavam que eram maus ou indignos, mas todos, quase todos sem excepção, os viam como uma raça inferior. Não sentiam o mesmo que nós, não pensavam como nós. Inclusivamente acreditava-se nessa altura que as mulheres escravas nem sofriam por aí além quando lhes tiravam os filhos. Porque estavam preparadas para isso. Porque não eram como as brancas. Exactamente o mesmo que nós pensamos dos animais hoje em dia. </div>
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E lembro-me que, nesta altura, lia o livro, via vídeos na internet e chorava cada vez mais com esta tomada de consciência. E ainda tinha pesadelos à noite com vacas a sofrerem. Tocou-me especialmente o sofrimento das vacas porque tinha sido mãe há relativamente pouco tempo e por isso houve uma maior identificação com essa realidade.<br />
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E a partir daí decidi que não havia nada que me pudesse fazer voltar a ser cúmplice dessa indústria. E que queria educar o meu filho de forma a que ele percebesse que não temos o direito de nos sentir donos dos animais. Que não temos o direito de colocar os nossos gostos, preferências, comodidades e egoísmos à frente da vida de outros seres.<br />
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Hoje em dia, quando olho para trás, sinto-me como se tivesse saído de uma espécie de seita. Porque deixei de acreditar em tudo o que me foi dito, em tudo o que me foi incutido. Porque tive de reformular uma boa parte da minha visão do mundo e da vida. Porque tive de que deixar de fazer simplesmente o que todos faziam e tive que procurar soluções e alternativas que nem sempre são óbvias.<br />
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E, quando saímos de uma seita podemos sentir-nos um pouco sozinhos quando não encontramos outros que pensem como nós. Por isso mesmo resolvi criar este blog. Porque acredito no poder da internet para divulgar conhecimento e experiências e, porque, quando queremos deixar o caminho que é percorrido pela maioria, ajuda muito conhecermos a experiência de alguém que o fez antes de nós. Assim, esta é a minha partilha, a minha colaboração para tentar fazer deste um mundo verdadeiramente melhor para o meu filho e para todos os outros que nele habitam. </div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-8429157455576509288.post-90312239014743596362014-09-30T03:35:00.002-07:002014-09-30T03:35:23.023-07:00Porque quero educar o meu filho como Vegan <div>
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Quando o meu filho nasceu muitas pessoas nos perguntaram se íamos impor as nossas escolhas alimentares à criança, com uma certa entoação de crítica, como se estivéssemos a forçá-lo a entrar em alguma seita maluca, estranha e vagamente suspeita ainda que não saibam bem de quê. A essas pessoas respondi sempre que, todas elas sem excepção, impuseram as suas escolhas aos filhos, tal como os meus pais me impuseram a mim e tal como é suposto fazermos normalmente com todas as nossas opções e valores que, naturalmente, vamos procurando transmitir à descendência. Ao que estas pessoas me respondiam que era uma situação muito diferente porque as nossas opções, como pais, estariam a condenar o meu filho – pobre criança inocente – a uma vida inteira de diferença e exclusão que dificultariam muito o</div>
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<a href="http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSkfShpSVHdFflfCSiteOUXzePcJF2iGCrdDwqEWI-6GTl2_oqwDkXCGREh" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" src="http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSkfShpSVHdFflfCSiteOUXzePcJF2iGCrdDwqEWI-6GTl2_oqwDkXCGREh" /></a></div>
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seu convívio com as demais crianças. Ao que poderia responder que, nesse caso, o erro estava do lado da sociedade ou de quem o rejeitasse e não em nós ou nele. Mas, a verdade, é que este é um dos receios que toma conta de muitos pais de crianças vegetarianas ou vegans, principalmente quando chega a altura de irem para a escola. Em relação a este receio que, devo confessar, também me surgiu algumas vezes, aquilo que tenho a descobrir com o meu filho é que não tem grande razão de ser. Porque, como em tantas outras coisas, o mais importante é a base de confiança que criamos com os nossos filhos e que eles criam connosco. E, quando essa confiança existe, as crianças sentem-se seguras de si e das suas escolhas, mesmo quando sabem que são diferentes das dos outros. Já em diversas ocasiões, como festas de aniversário, por exemplo, o meu filho me mostrou que sabe que o que nós comemos é diferente daquilo que a maioria das pessoas come e isto para ele é tão tranquilo como saber que algumas pessoas gostam mais azul e outras de cor de rosa. Porque ainda o achamos pequeno para explicar aquilo que está por trás destas escolhas, por enquanto, limitamos-nos a dizer que algumas coisas não são vegans e que só comemos as que são e isto para ele é tão pacífico como explicar que os adultos bebem vinho e café, por exemplo, e as crianças não. Quando as crianças confiam nos pais e se sentem seguras do amor destes não precisam tanto de se sentir iguais ás outras, porque a identificação mais importante que precisam de criar, nestes primeiros anos de vida, é com os pais mesmo e não com as outras crianças. E, na verdade, sermos vegans até ajuda a criar uma identidade distinta, uma atmosfera de pertença e contribui para construção dessa identidade de família que é importante e essencial na construção da identidade individual. Claro que chegará a altura em que essa identidade de família não será suficiente, chegará a altura em que haverá uma necessidade do meu filho, como acontece com todos os outros, criar a sua identidade própria mas, antes de o fazer, ao explorar novas possibilidades é natural que tenha alguma tendência para se afastar dessa identidade da família, principalmente na adolescência. E, nessa altura, não me surpreende nada que tenha necessidade de se aventurar noutros mundos e quem sabe até de experimentar comer coisas que nunca tinha comido. Quando essa altura chegar a única coisa que poderemos fazer é continuar a dar-lhe a nossa aceitação incondicional e perceber que, todos os adolescentes passam por fases em que é natural questionarem as escolhas da família. Mesmo assim, espero que sejamos capazes de lhe transmitir que, mais do que uma escolha alimentar, o veganismo é uma forma de encarar a vida que passa por um valor fundamental: o respeito por todas as formas de vida e a crença fundamental de que os animais têm de ser tratados com o mesmo respeito que tratamos as pessoas, nem mais nem memos, o mesmo respeito com que tratamos as pessoas, sim.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibXHtSYLnm1Ujmf3_tHP0NUWyPLV9tiJhcX6KM_w9F0vHQia3MjdMVHbu-zC7sKscdGcrY7Xq_dE06SC5-1jsEbo03ChnMUC4YwEJPQdREHzcZAR6JGjU-_JMyuUCtNXwV5bhX_NfDS_g/s1600/@_Ronnie%2520and%2520new%2520best%2520pal.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibXHtSYLnm1Ujmf3_tHP0NUWyPLV9tiJhcX6KM_w9F0vHQia3MjdMVHbu-zC7sKscdGcrY7Xq_dE06SC5-1jsEbo03ChnMUC4YwEJPQdREHzcZAR6JGjU-_JMyuUCtNXwV5bhX_NfDS_g/s1600/@_Ronnie%2520and%2520new%2520best%2520pal.jpg" height="212" width="320" /></a></div>
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É por isto que quero que o meu filho cresça como vegan, porque quero que, para ele, esse respeito seja uma realidade e não apenas um conceito vago, confuso e contraditório como foi na minha cabeça durante tantos anos. Porque todos os pais ensinam os filhos a gostar dos animais, porque todos os pais gostam que os filhos tratem bem os animais, porque todos os pais têm dificuldade em explicar aos filhos que o que têm nos pratos já foi um animal, um ser com sentimentos, emoções e tão merecedor da vida como qualquer um de nós. Porque todas as crianças têm uma altura em que percebem essa contradição e a única forma de viverem com ela é fecharem uma parte de si, fecharem a parte de si que sabe que todos os seres são dignos de amor e respeito, fecharem a parte de si que sabe que não é certo causar dor e sofrimento apenas para a nossa conveniência. Porque qualquer criança sofre quando vê um animal a ser mal tratado, todos conhecemos histórias de crianças que se recusaram a comer um coelho ou uma galinha que viram ser morta por algúem. Porque as crianças nascem com essa capacidade de sentir empatia, com essa vontade de não causar sofrimento. Mas, com o tempo e com a nossa ajuda e os nossos argumentos vão percebendo que não podem dar-se ao luxo de manter essa empatia, porque senão não poderiam comer animais todos os dias. Vão começando a perceber que não podem ouvir essa parte de si, porque nós as convencemos que ela não está certa, que não é de fiar, que não podem dar-lhe ouvidos. Como alguém disse num vídeo que vi no youtube, todos gostamos de crianças que gostam dos animais e ficamos muito comovidos quando elas os defendem - como no vídeo do menimo brasileiro que não queria comer polvo, que correu o mundo, foi visto por mais de três milhões de pessoas e até acabou por ser entrevistado no programa da Helen Degeneres (<a href="http://www.youtube.com/watch?v=NX4O6smZrLE">ver aqui o vídeo</a>) - mas achamos todos um bocado suspeito um adulto que tenha a mesma atitude. Porque, nós adultos, a maior parte das vezes, já silenciámos esse nosso lado sensível, preocupado, empático.</div>
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Então, eu não quero que o meu filho seja obrigado a perder esse lado criança, não quero que ele passe a encarar uma vaca como menos digna que um cão, ou um porco como menos sensível que um gato. Não quero que ele perca essa sua natureza fundamental, que é a de todos nós, de respeitar, admirar e proteger a vida, em todas as suas formas. Porque quando essas partes de nós se fecham não sabemos que mais é que seremos obrigados a fechar. Porque acredito que o respeito pela vida é o caminho para vivermos em paz com os animais mas também com os humanos, com a natureza, com o planeta. Porque uma criança que cresce a respeitar os animais também respeitará as pessoas. Porque uma criança que cresce sentindo valorizado o seu respeito pelos animais também se aprende a respeitar a si mesma.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
E, sim tenho noção de que ser diferente nem sempre é fácil. Mas também tenho noção de que não sermos fieis a nós mesmos e à nossa natureza é ainda mais difícil. E também tenho noção de que a aceitação mais importante ele encontra primeiro em casa, com o pai e com a mãe e depois consigo mesmo, crescendo num ambiente de aceitação, de acolhimento e de respeito. Respeito que, muita gente nos pergunta, não implica deixá-lo comer carne um dia quando quiser? Implica deixá-lo comer o que quiser, sim, quando quiser. Mas apenas quando tiver maturidade suficiente para saber o que isso implica. Porque o nosso caminho não tem a ver com proibições ou imposições, como tanta gente julga, mas tem tudo a ver com consciência e respeito. E, para podermos respeitar as escolhas dos outros, temos que saber que, antes de mais nada, eles as fazem com consciência e não porque apenas decidiram fazer o que toda a gente faz. Não posso respeitar uma escolha que é fruto do conformismo e de queremos apenas fazer o que todos fazem porque essa não é uma verdadeira escolha. Uma verdadeira escolha implica ter noção das consequências dos nossos actos, consequências que uma criança de 2, 3 ou 4 anos ainda não tem noção para compreender. E não sei quando terá. Depende de cada criança e depende de cada pai ou mãe, só o tempo o dirá. Também não deixamos os nossos filhos beber alcoól antes de termos a certeza que compreendem o que isso implica, porque é que isto haverá de ser assim tão diferente? Só porque mexe com as tais partes de nós, que todos temos, que sabem que, no fundo a nossa escolha nunca existiu, limitámos- nos a fazer o que todos os outros faziam e a silenciar o nosso lado empático e capaz de ver o sofrimento que as nossas não escolhas provocam. </div>
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<a href="http://media-cache-ak0.pinimg.com/236x/1b/d7/a9/1bd7a95d83382e4351b44f8e2768ebd0.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://media-cache-ak0.pinimg.com/236x/1b/d7/a9/1bd7a95d83382e4351b44f8e2768ebd0.jpg" /></a>Porque, como disse Paul McCartney, se os matadouros tivessem paredes de vidro, todos seríamos vegetarianos.</div>
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<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
E, para quem duvida desta frase fica um desafio: deixo aqui o link de um documentário que pode ajudar a mudar consciências, o Earthlings, veja-o até ao final. Só conhecendo tudo aquilo que está envolvido nas nossas escolhas e as suas consequências é que podemos afirmar que realmente escolhemos em liberdade. <a href="http://www.youtube.com/watch?v=ce4DJh-L7Ys">Ver aqui o filme</a><br />
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